A liberdade que aprisiona

Vivemos tempos de um absolutismo da liberdade, temos jovens recém saídos da adolescência dando dicas de como viver na fase adulta, temos adultos normalizando vivenciar coisas de crianças, além da faculdade de ter um relacionamento ou vários ao mesmo tempo.

E o que isso gera?

A certeza de que estamos vendo pessoas reféns do que o sistema impôs como normal, que por vezes desejam não mais viver de certa forma, mas a “tirania” da liberdade que os colocou lá, os impedem de sair.

Acontece que em muitos momentos da vida, nos deparamos com o sufoco de não saber vivenciar os próprios afetos, a personalidade é sufocada por uma entidade que aprisiona a naturalidade humana.

E infelizmente temos jovens que podem passar horas falando como solucionar os problemas alheios, mas não conseguem pensar em minutos como superar um defeito interno.

São influenciadores que não influenciam nada, são artistas que não fazem arte e são criadores de conteúdo que não sabem criar.

Além daqueles que se apegam a ideia mitológica de uma vida ou um amor perfeito, saindo em busca mesmo que mentalmente de algo irreal, deixando de saber aproveitar o que está diante dos olhos.

E aí? Aí que como na guerra sempre terá alguém para lucrar com as bombas, da mesma forma essa vivência declaradamente não saudável, fazendo com que muitos adoeçam, teremos aqueles que lucram com consultas, remédio e afins, sem indicar ou ajudar de forma natural.

É uma epidemia de solidão, um surto de vaidade, uma praga de ganância, uma pestilência de autonomia, uma proliferação de desnutrição da alma, tudo em busca de algo inalcançável.

Essa fantasia de que é possível ter tudo sozinho, não passa de uma tentativa de negar que sempre teremos ajuda, fato é que mesmo vivendo com alguém que está sempre ali nos amparando, não agradecemos ou fingimos que é uma obrigação, nos isolando psicologicamente para fazer o que a maioria faz, ser egoísta.

Desejar ter um vínculo profundo, consumir um conteúdo de qualidade ou até mesmo selecionar os ambientes não nos torna dependente emocional de nada, apenas fortalece o que de bom podemos aproveitar em tudo.

Iludir-se de que não precisamos de ninguém a nossa volta, que somos autossuficiente, é o puro suco do egoísmo e do que viveu Narciso na Grécia antiga.

A ilusão de que vivemos no anseio de termos a liberdade a todo custo, mas queremos a proteção dos outros para vivermos de forma “soberana”.

Muitos vivem em busca de respeito sem limites aos próprios desejos, mas querem que todos se moldem a sua medida, mesmo que implique na liberdade do outro.

O modernismo de viver de aparência camufla a dificuldade de que alguém tem que ceder, sempre, e que o outro tem muitos anseios como nós, para conciliar os desejos em comum.

É necessário coragem para aproveitar a liberdade, mas sabendo que os vínculos que nos apertam, nos moldam ao presente que temos da vida.

Papo de Quinta por Alex Curvello
Advogado
@alexcurvello

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