Enquanto soldados se movem nas fronteiras da Ucrânia, diplomatas ocidentais e russos movimentam suas peças em diferentes reuniões de alto nível. Apenas nesta terça-feira (18), a chanceler alemã, Annalena Baerbock, encontrou-se com seu contraparte russo, Serguei Lavrov, enquanto o premiê alemão, Olaf Scholz, esteve com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.
A mensagem dos representantes de Berlim foi uníssona: o preço para defender Kiev será alto –e eles estão dispostos a pagar. Para resguardar os direitos fundamentais europeus, Baerbock defendeu que “não há outra opção, mesmo que isso signifique pagar um alto preço econômico”.
A ministra das Relações Exteriores ainda alertou que as consequências podem chegar ao Nord Stream 2, caso a energia seja usada como uma arma por Moscou.
O gasoduto liga a Alemanha à Rússia e está pronto, mas sua operação foi suspensa, com a possibilidade de ser autorizada apenas em junho deste ano.
O recado de Baerbock ecoa o de seu premiê, que após sua reunião com Stoltenberg reforçou que a Alemanha está aberta a impor sanções no caso de um ataque russo e que tudo estaria na mesa, inclusive o Nord Stream 2. Lavrov, por sua vez, afirmou ter deixado claro aos alemães que “tentativas de politizar o projeto seriam contraproducentes”, segundo a agência de notícias Interfax.
Além da ministra alemã, o chanceler russo conversou nesta terça com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. O americano instou uma desescalada do conflito e defendeu a via diplomática para solucionar a crise, enquanto os dois decidiram que seria mais proveitoso encontrar-se pessoalmente.
Lavrov, por sua vez, insistiu que a Rússia espera respostas concretas e que elas cheguem o quanto antes, além de pedir que o secretário de Estado “não propague especulações sobre uma suposta ‘agressão russa’ iminente”.
O comunicado do Departamento de Estado, porém, mantém o tom duro contra os russos, ao anunciar o tour na Europa de Blinken. Segundo a pasta, o objetivo é “discutir os recentes engajamentos diplomáticos com a Rússia e esforços conjuntos para conter uma maior agressão russa contra a Ucrânia, incluindo a prontidão de aliados e parceiros para impor consequências massivas e custos econômicos severos”.
A ofensiva diplomática começará em Kiev, nesta quarta (19), onde se reunirá com o presidente Volodimir Zelenski e o chanceler Dmitro Kuleba. Depois, em Berlim, será a vez de Baerbock e de uma reunião conjunta entre EUA, Reino Unido, França e Alemanha. Por fim, na sexta (21), Blinken terá seu próprio engajamento diplomático com Lavrov, em Genebra.
As reuniões entre as autoridades ocorrem enquanto as tensões aumentam no front. Cerca de 100 mil soldados russos continuam na fronteira com a Ucrânia, enquanto Moscou enviou tropas e equipamentos militares a Belarus nesta segunda-feira (17), para a realização de exercícios conjuntos que devem começar em fevereiro.
As operações serão feitas numa região a oeste de Belarus, na fronteira com os membros da Otan Polônia e Lituânia, além da própria Ucrânia, anunciou o ditador belarusso, Aleksander Lukachenko.
Para os EUA, a Rússia está preparada para um possível ataque que poderia acontecer a qualquer momento, alertando que a resposta americana incluiria todas as opções –ainda que o presidente Joe Biden tenha excluído por enquanto a possibilidade de enviar tropas americanas para lutar contra soldados russos.
“Nenhuma opção está fora da mesa”, disse a secretária de imprensa Jen Psaki, que acrescentou o alerta para uma “situação extremamente perigosa”.
Mesmo com a movimentação, a Rússia segue sua defesa de que não há intenção de atacar a Ucrânia, ao mesmo tempo em que afirma que poderia adotar ações militares a não ser que o Ocidente atenda suas demandas –o que inclui uma promessa de que Kiev não ingresse na Otan.
Na entrevista coletiva após sua reunião com a chanceler alemã, Lavrov insistiu nas demandas, afirmando que “agora espera respostas a essas propostas –como nos prometeram– para continuar as negociações”.
O ministro russo voltou inclusive a rejeitar o apelo dos ocidentais para retirar as tropas mobilizadas na fronteira com a Ucrânia, ao dizer que esses militares não ameaçam ninguém. “Mais de 100 mil soldados russos, equipamentos e tanques foram mobilizados perto da Ucrânia, sem razão. Fica difícil não ver isso como uma ameaça”, rebateu Baerbock.
Enquanto cresce o temor de um conflito, o Reino Unido anunciou nesta semana ter iniciado o fornecimento de armamentos antitanque para a Ucrânia.
Já a Otan continua tentando a via diplomática. Stoltenberg disse nesta terça que convidou aliados e a Rússia para mais reuniões com o objetivo de discutir formas de melhorar a situação da segurança na região, já que a última rodada de conversas terminou sem avanços.
“Os aliados da Otan estão preparados para discutir propostas concretas sobre como reduzir riscos e aumentar a transparência no que tange atividades militares e como reduzir ameaças espaciais e cibernéticas”, afirmou Stoltenberg em entrevista coletiva conjunta com Scholz, acrescentando que a aliança também está preparada para intercambiar informações sobre exercícios militares e as respectivas políticas nucleares.
A situação para a Ucrânia, por outro lado, é sensível. Ainda que o Ocidente esteja se alinhando para defendê-la, o país não faz parte da Otan, o que deixa os membros da aliança militar livres de obrigações para intervir.