Ao longo das últimas semanas, analistas de bancos e corretoras passaram a rever para cima suas projeções para o índice de ações Ibovespa em 2022.
Os cálculos de BofA (Bank of America), XP, Ativa e Guide apontam agora para o principal índice acionário da Bolsa de Valores local entre os 130 mil e os 135 mil pontos até dezembro, ante previsões anteriores mais próximas dos 120 mil pontos.
Embora os economistas prevejam um crescimento fraco do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para este ano, a diferença ao redor dos 10 mil pontos se deve essencialmente a um cenário macroeconômico global que tende a seguir favorecendo grandes empresas do mercado brasileiro.
Em um ambiente de inflação pressionada e aumento dos juros, os especialistas preveem que commodities e bancos, que já têm sido os maiores responsáveis pela valorização recente da Bolsa, seguirão entregando resultados satisfatórios aos investidores.
A expectativa majoritária dos agentes de mercado também aponta para a continuidade de um fluxo financeiro internacional direcionado ao país, com a invasão russa na Ucrânia afastando investidores de emergentes na Europa, região mais impactada economicamente pelos conflitos.
Nesse cenário, o Ibovespa registra uma alta de aproximadamente 11,4% no acumulado de 2022, até 13 de abril, cotado aos 116.781 pontos.
A XP revisou no final de março de 123 mil para 130 mil pontos a projeção para o índice de ações em dezembro, o que passa a embutir um potencial de valorização de aproximadamente 11,3% em relação ao fechamento de quarta.
No caso do time da corretora Guide, a estimativa foi revista no mês passado de 120 mil para 130 mil pontos. E de 117 mil para 135 mil pelos cálculos dos analistas da Ativa.
Já a equipe do BofA atualizou no início de abril de 125 mil para 135 mil a projeção para o Ibovespa, embutindo uma perspectiva de alta de cerca de 15,6% até o final do ano.
Emergente em destaque
Os analistas do banco americano dizem que a mudança vem na esteira de lucros melhores do que o esperado tanto para as empresas de commodities como para os grandes bancos nos próximos balanços de resultados.
“O Brasil deve continuar a ser um importante destino entre os mercados emergentes devido ao peso de nomes de valor”, apontam os analistas do BofA em relatório.
Dados da B3 indicam uma entrada de aproximadamente R$ 68 bilhões em recursos de estrangeiros na Bolsa no acumulado de 2022. A B3 chegou a corrigir no início do mês os dados sobre o fluxo de investidores internacionais no país, o que não foi suficiente a ponto de afetar a avaliação positiva de analistas sobre a região.
O BofA lembra que, em um cenário de alta dos juros globais nos Estados Unidos e na Europa, investidores têm feito um movimento de rotação das carteiras, migrando de nomes de tecnologia com alto potencial de crescimento para apostas de caráter mais cíclico em bancos e commodities.
Nesse sentido, Suzano, PetroRio, Eletrobras e Itaú Unibanco estão entre as preferências na carteira de América Latina do banco americano.
“Estamos mais otimistas do que o consenso de mercado em várias commodities (especialmente petróleo, alumínio e celulose) e em relação aos ganhos dos bancos.”
Consumo interno
Na carteira recomendada da XP para abril, grandes exportadoras como Petrobras e Vale dividem espaço com as ações do Banco do Brasil.
Estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira diz que, caso os preços das matérias-primas sigam próximos dos níveis elevados em que se encontram no mercado internacional, as empresas do setor vão continuar tendo uma forte geração de caixa e o mercado como um todo será forçado a revisar para cima os lucros esperados para essas companhias.
Ferreira afirma também que, diante do cenário macroeconômico ainda desafiador no país, com inflação e taxas de juros crescentes e um PIB próximo de zero projetado para 2022, é cedo para fazer uma migração total para os nomes de viés mais doméstico da Bolsa.
“A perspectiva de juros mais altos no Brasil é o principal empecilho que pode impedir que as ações tenham um bom desempenho”, diz o estrategista-chefe da XP.
Isso não significa dizer, porém, que não haja nenhum espaço no portfólio sugerido para papéis mais vinculados à economia local, caso de Arezzo e Iguatemi.
São nomes focados em classes de maior poder aquisitivo, que tendem a apresentar uma performance mais resiliente do que a média, afirma Ferreira.
Queda dos juros
Na Guide, a carteira recomendada de abril tem ações de consumo e varejo como Assaí e Grupo Soma, sem prejuízo, no entanto, à presença de exportadoras como Petrobras, Vale, Gerdau e JBS, além do Itaú no setor financeiro.
Analista de mercado da Guide, Rodrigo Crespi afirma que, enquanto nos países desenvolvidos o ciclo de aumento dos juros ainda está apenas no início, no Brasil, esse processo já está em estágio bem mais avançado.
E, com a possibilidade de o BC (Banco Central) começar um ciclo de corte dos juros em algum momento do segundo semestre ou no início de 2023, papéis mais ligados à atividade local que não tiveram o desempenho positivo de bancos e commodities podem ser beneficiados, prevê Crespi, acrescentando que a reabertura da economia e o aumento da mobilidade devem continuar favorecendo nomes mais vinculados ao cenário doméstico.
Além disso, ainda que parcialmente, a inflação está sendo repassada de alguma maneira ao consumidor final, o que tende a gerar um aumento nominal dos lucros, aponta o analista da Guide.
Ele diz ainda que considera o risco eleitoral relativamente baixo. Nenhum dos dois candidatos com mais chances de vitória –o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual mandatário Jair Bolsonaro– deve levar a uma deterioração fiscal relevante caso eleitos, afirma Crespi.
Volatilidade no caminho Chefe de pesquisa da Ativa, Pedro Serra também aponta o contexto global favorável às commodities e bancos como a principal razão para a revisão na projeção do Ibovespa.
A carteira recomendada da corretora para abril tem nomes como Vale, Suzano e Vibra Energia, além dos bancos Bradesco e Itaú.
Serra assinala, contudo, que o caminho até os 135 mil pontos deve ser marcado por sessões de intensa volatilidade, com as eleições no Brasil e as incertezas globais acerca da guerra na Ucrânia e relativas à alta de juros nos países desenvolvidos.
De modo a se proteger dos solavancos de mercado, mas também sem deixar de aproveitar o momento favorável às commodities, o especialista indica aos investidores que tenham ações da PetroRio em detrimento das da Petrobras, naturalmente mais suscetível ao risco político intrínseco às estatais.
Entre os nomes mais vinculados à economia local, se destacam na carteira da Ativa ações de empresas como Petz, Arezzo, Natura e Grupo Mateus. “Não é para o investidor comprar ações de maneira indiscriminada, mas existem algumas boas histórias de empresas de qualidade que acabaram ficando para trás”, diz Serra.