O Ministério da Saúde confirmou a análise do governo de São Paulo e disse nesta sexta-feira (21) que está descartada a relação entre a vacinação da Covid-19 e a parada cardíaca de uma criança de Lençóis Paulista (SP).
A pasta afirmou que “o evento adverso pós-vacinação foi descartado”. “A síndrome de Wolff-Parkinson-White, até então não diagnosticada e desconhecida pela família, levou a criança a ter uma crise de taquicardia, que resultou em instabilidade hemodinâmica”, disse a Saúde, citando a investigação feita pelo governo local.
Os ministros Marcelo Queiroga (Saúde) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) visitaram a criança na quinta-feira (20). O presidente Jair Bolsonaro (PL) telefonou para a família.
No Twitter, mesmo depois de o governo paulista ter concluído que a reação estava ligada à doença congênita rara, Damares disse que teve encontro com a criança “hospitalizada após suspeita de parada cardíaca no mesmo dia em que recebeu a vacina contra Covid”.
Queiroga curtiu a publicação de Damares. Ambos não informaram que a relação com a vacina já estava descartada.
A ministra Damares Alves avalia disputar o Senado em São Paulo ou no Amapá. Já Queiroga tem dito a aliados que não deve se candidatar e se agarra ao cargo na Saúde com agrados ao presidente Bolsonaro.
Procuradas, as assessorias de Damares e Queiroga não responderam se os ministros já visitaram famílias de vítimas da Covid-19.
O ministro já foi a hospitais de tratamento da Covid. Em maio de 2020, Damares esteve em Floriano (PI) para conhecer protocolo de tratamento com a cloroquina. Ela tratou o remédio sem eficácia contra o coronavírus como “milagre” à época.
Parlamentares da oposição criticaram a visita a São Paulo. “Foram fazer campanha política antivacina. São pessoas sem alma, incapazes de amor ao próximo. Torcem pela morte para questionar a ciência”, escreveu o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), no Twitter.
Queiroga também divulgou nesta semana dados falsos sobre mortes no Brasil ligadas à vacina da Covid-19.
Em nota, a Saúde disse que “a vacinação é segura e foi autorizada pela Anvisa.” “O Ministério da Saúde segue monitorando a ocorrência dos eventos adversos pós vacinação em parceria com as secretarias municipais e estaduais de saúde”, disse a pasta.
A criança de 10 anos recebeu o imunizante da Pfizer, indicado para sua faixa etária. Cerca de 12 horas depois, começou a apresentar sintomas que evoluíram a uma parada cardiorrespiratória. A criança já teve o quadro revertido e estava hospitalizada, mas estável, na quinta, quando a relação com a vacina foi descartada.
Um ponto que chamou a atenção dos especialistas foi o curto intervalo entre a imunização e o início dos sintomas. O tempo decorrido não sustentaria a hipótese de uma miocardite desencadeada pela vacinação, segundo a investigação.
Técnicos do governo federal afirmam que o caso poderia ser levado ao comitê de farmacovigilância comandado pelo Ministério da Saúde, mas que a análise do governo paulista não deixou dúvidas.
A investigação do caso foi conduzida de forma conjunta pela Divisão de Imunização do estado e pelos Grupos de Vigilância Epidemiológica de Botucatu e de Bauru, além do município de Lençóis Paulista.
O diagnóstico revelou uma pré-excitação no eletrocardiograma da criança, o que, segundo a secretaria, é uma característica da síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW).
“Esta é uma condição congênita que leva o coração a ter crises de taquicardia. Algumas destas crises podem ter frequência muito alta, levando até a síncope ou mesmo morte súbita”, explica em nota.