É na rua que a cidade vive.
Como se cada azulejo contasse a história de um povo. Como se cada paralelepípedo fixado no solo fosse um pedacinho da caminhada percorrida. Como se o pó de chão fundisse ao tempo.
Na memória do hoje guardamos o cheiro do passado.
O ontem está estampado nos casarões, aqueles ditos mal-assombrados, com histórias dos antepassados penduradas na parede de uma sala colonial. Espaços antes deteriorados, de um tempo que não volta mais, agora se ressignificam.
Museu de grandes novidades.
Ressignificar é abrir as portas ao novo, deixando a janela de trás arejar o antigo. Uma história contada na calçada é capaz de passear por gerações. Cabe a nós novos significados.
Pulsamos o que percorre a genealogia do nosso ser.
E somos. Tudo aquilo que é contando na lembrança de nossos pais, na mesa farta na casa dos avós, no gosto do picolé tradicional de Zé de Sofia, nos bailes de carnaval no Aracaty Club que da minha mãe eu sempre ouvia.
Só mesmo uma rua grande caberia tantas narrativas.
Hoje é palco de sentidos – dos olhos que brilham com o entardecer, do gosto de sabores da terra, do canto de artistas locais, do cheiro de novos tempos, do toque dos bons ventos.
Perto ou distante, não me sai um só instante, de dentro do coração.