O índice de referência da Bolsa de Valores brasileira reverteu a tendência negativa das primeiras horas desta sexta-feira (4) para fechar o dia em alta de 0,49%, a 112.244 pontos. Com isso, o Ibovespa avançou 0,30% nesta semana, a quarta seguida no azul. O ganho acumulado em 2022 é de 7,08%.
O dólar encerrou a sessão em alta de 0,54%, a R$ 5,3240. Apesar do ganho diário, a moeda americana sofreu uma baixa semanal de 1,22%. É a quarta semana consecutiva de queda. Neste ano, a divisa ainda acumula perdas frente ao real de 4,52%.
Os mercados de ações e de câmbio entraram no segundo mês de 2022 com um comportamento inesperado em relação ao contexto internacional. Analistas previam Bolsa em queda e dólar em alta. Essa seria a reação natural diante da expectativa de aumento dos juros nas principais economias e as consequentes reduções de liquidez e de interesse de investidores por ativos de países considerados arriscados, como é o caso do Brasil.
Em meio à queda das bolsas americanas neste ano, justamente devido à expectativa de alta dos juros, porém, estrangeiros buscaram em economias emergentes ganhos temporários. Isso favoreceu ativos brasileiros excessivamente desvalorizados pelas turbulências da política doméstica em 2021.
Ao se antecipar ao aperto monetário global, o Brasil também passou a contar com uma das taxas de juros mais atrativas do mundo.
O cenário favorável à entrada de investidores estrangeiros e dólares na economia doméstica ainda ganhou o reforço da valorização de algumas das principais matérias básicas produzidas por aqui, que são o petróleo e o minério de ferro.
A petroleira estatal Petrobras e a mineradora Vale voltaram a puxar os ganhos da Bolsa no pregão desta sexta. As empresas subiram 1,75% e 2,62%, nessa ordem.
Ajustes nesses movimentos de investidores internacionais aos cenários global e doméstico -eles tentam decidir o melhor momento de lucrar com as altas recentes do Ibovespa e do real- provocaram oscilações ao longo desta semana, o que no jargão do mercado é chamado de correção. Houve duas quedas diárias seguidas da Bolsa, na quarta (2) e na quinta-feira (3), algo que não acontecia desde a primeira semana deste ano.
Nos Estados Unidos, a sexta-feira terminou com ajustes para cima nas ações de tecnologia um dia após a Meta, dona do Facebook, ter mergulhado mais de 26% e arrastado os principais índices acionários para o fundo. Nesta sexta, os papéis da Meta caíram 0,28%.
A Nasdaq subiu 1,58%, encerrando a semana com ganho de 2,38%. A bolsa de tecnologia americana havia afundado 3,7% nesta quinta. Esse é o segmento empresarial que enfrenta os maiores prejuízos no mercado de ações em meio às tensões sobre a elevação das taxas de juros. O segmento é o que mais depende de crédito.
O S&P 500, referência do mercado americano, subiu 0,52% na sessão, enquanto o Dow Jones recuou 0,06%. Os dois indicadores encerraram a semana com ganhos, de 1,55% e 1,05%, respectivamente.
Os juros americanos deverão sair do zero a partir de março porque o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) avaliou que precisa restringir o crédito para que o país consiga frear a maior inflação em quatro décadas.
A alta nos preços ganha força com a retomada da economia devido ao avanço da vacinação contra a Covid-19. Dados sobre a criação acima do esperado de vagas de trabalho em janeiro, apesar do avanço da variante ômicron, reforçam a expectativa de que os juros irão subir.
O Departamento do Trabalho informou que foram criados 467 mil postos de trabalho fora do setor agrícola no mês passado. Os dados de dezembro foram revisados para cima, para mostrarem abertura de 510 mil vagas, em vez das 199 mil relatadas anteriormente. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 150 mil postos de trabalho em janeiro.
“O mercado laboral está aquecido e mais do que o esperado. Isso põe pressão no Fed a deixar o pé no acelerador no aumento de juros”, disse Andrey Nousi, fundador da Nousi Finance.
Em nota, a Genial Investimentos destacou que, “diante da mudança na avaliação de que a inflação não é transitória, mas sim um processo permanente ligado aos excessos de demanda decorrentes de políticas fiscais excessivamente expansionistas e dos gargalos no sistema produtivo, os bancos centrais precisarão de políticas monetárias mais duras do que as esperadas”.
Com grande influência na Bolsa e na economia brasileira, os preços do petróleo voltavam a disparar nesta sexta. O barril do tipo Brent, referência mundial, saltava 2,48% no final da tarde, a US$ 93,37 (R$ 497,45).
O aumento das tensões entre potências militares ocidentais e a Rússia, que movimenta tropas na fronteira da Ucrânia, é um dos principais fatores de pressão sobre a commodity. Os russos estão entre os principais produtores de óleo e gás.
Além disso, a Opep (organização de países exportadores) reluta em aumentar o ritmo diário de produção, o que já vinha pressionando os preços devido à retomada da economia.
Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora, também destacou que tempestades nos Estados Unidos estão ameaçando causar novos gargalos na cadeia de fornecimento de matérias básicas.