Em 1896 Jean-Léon Gérome deixou o quadro “A verdade saindo do poço” e teve uma escrita como fábula atribuída ao quadro que destaco abaixo.
“A Mentira disse à Verdade: “Vamos tomar banho juntos, a água do poço é muito gostosa.”
A Verdade, ainda desconfiada, testou a água e descobriu que estava realmente gostosa.
Então eles ficaram nuas e tomaram banho.
Mas de repente, a Mentira saltou da água e fugiu, vestindo as roupas da Verdade.
A Verdade, furiosa, saiu do poço para recuperar as roupas.
Mas o Mundo, ao ver a Verdade nua, desviou o olhar, com raiva e desprezo.
A pobre Verdade voltou ao poço e desapareceu para sempre, escondendo a sua vergonha.
Desde então, a Mentira corre pelo mundo, vestida de Verdade, e a sociedade está muito feliz.
Porque o mundo não deseja conhecer a Verdade nua e crua.”
No Papo de Quinta desta semana, trago esse ensinamento e podemos perceber que parte da humanidade não deseja saber a verdade por receio de olhá-la de frente, preferindo viver na ilusão da mentira ou pior na escravidão do sistema.
Com isso, as pessoas estão muito propensas uma dissociação cognitiva e acabam preferindo acatar a mentira com aparência de verdade do que enfrentar a realidade.
E assim as notícias falsas que persistem no mundo desde tempos antigos, até os atuais, soam como verídicas, mostrando-se com trajes enganosos.
Atualmente, muitos consomem tempo e dinheiro com ostentações na internet que em muitos casos não correspondem a realidade, mas que a maioria aplaude por ser facilmente enganada.
Confesso que não tenho a sabedoria para saber precisamente quem está mentindo ou falando a verdade no mundo virtual, até por isso não acompanho essa modernidade de pessoas “brotando” a todo momento com uma vida aparentemente irreal, mas que alimenta os anseios de muitos.
A aparência mesquinha e mentirosa de muitos vem se tornando cada vez mais constante nos tempos modernos, não que não tenha existido no passado, mas atualmente nós estamos sendo facilmente manipulados, sem grandes objeções.
Sem esquecer, mas sem aprofundar sobre os remédios, procedimentos estéticos e cirúrgicos para dissimular imperfeições ou aspectos não aceitáveis, fugindo da verdade que lhe pertence e comprando uma falsidade mais agradável para si, passando a exercer um papel crucial na busca da felicidade de muitos.
Tentando com isso apresentar o inverídico e dissimulado como verdadeiro e real para uma melhor convivência com aqueles que apenas julgam por aparência.
Outro dilema da falta de verdade conseguimos perceber nos relacionamentos, quando há traições e até mesmo nas amizades que tentam impor a sua verdade, não aceitam o contraditório e acabam por se afastar por querer que apenas sua realidade prevaleça.
Não poderíamos esquecer da política e da vida pública. Que de mentiras em mentiras ditas mil vezes acabam por se tornar verdade como disse certa vez Joseph Goebbels, quando o correto seria que a mentira foi repetida milhares de vezes, mas que não torna-se verdade por isso.
Quase tudo nos tempos modernos é feito para provocar impacto e na intenção de iludir. É o famoso “todo mundo enganando todo mundo”.
Quantas vezes não nos deparamos com uma pesagem na embalagem e outra no interior do pacote e os produtos que diminuem de tamanho, mas o preço permanece o mesmo, reinando a cultura da falsidade.
Sendo que a principal verdade é aquela que devemos descobrir sobre nós mesmos, não conseguiríamos enxergar a verdade no outro, se internamente mentimos mesmo que esporadicamente.
E em determinados momentos nós iremos errar ou não atingir o objetivo de viver a verdade, sendo que não deveríamos nos abalar com julgamentos alheios e continuar tentando.
Finalizando o nosso Papo de Quinta com uma profunda frase do grande Albert Einstein – “O único homem que está isento de erros é aquele que não arrisca acertar”
Papo de Quinta por Alex Curvello
Advogado – Presidente da Comissão de Direito Previdenciário OAB Litoral Leste Ceará
@alexcurvello
