Carta ao “bom” pai

Já começo o nosso Papo dizendo que o termo bom foi refutado até por Jesus Cristo quando disse certa vez deixando a entender que Bom é o Pai que O mandou, em Lucas 18:19; “Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus.”

Assim fico com os dois pés bem atrás quando vejo esse termo utilizado de forma bem genérica por simplesmente muitos fazerem o básico ou muitas vezes nem isso.

Pois é pai, foram quase 40 anos acreditando que você foi um bom pai, mas que de fato não tenho como levar mais isso como uma verdade, do básico em ser um bom marido que você não conseguiu, bem como por ter deixado a desejar para todos seus filhos.

Você sempre quis explicar o mundo, todas as teorias, o que todos pensavam, parecia ter todas as respostas, mas era um fuga de minimamente se manter presente ao que significa ser pai.

Respeito no lugar do medo, amor no lugar de cobrança, carinho no lugar de briga, proteção no lugar de solidão, alicerce no lugar de abandono, um bom pai saberá enfrentar e propor as melhores escolhas entre essas comparações.

A relação do marido e mulher se torna um exemplo de como ser verdadeiramente pai e aqui não me refiro a tentar salvar o casamento a todo custo quando não existe mais uma relação, mas enquanto o relacionando existir, a mulher deve ser tratada da melhor maneira possível para servir de exemplo ao filho.

Então pai, por falar nisso, o exemplo foi péssimo, dentre os piores possíveis, a começar por ter deixado minhas irmãs mais velhas sem uma criação digna, meu irmão mais novo com sua decisão infeliz e depois por tratar seu casamento de forma horrível para não entrar em muitos detalhes, o que você fez serviu para que eu em vida tente fazer o oposto.

Longe de ser um bom pai também, fico no limbo entre fazer o básico que um pai deve fazer com as tentativas de fazer o extraordinário, mas que ciente de minhas limitações na condição que tenho.

Um pai deve fazer o melhor possível, não só para seus filhos por ensinamentos, mas ser exemplo de marido, bem como de filho da avó de seus filhos, proporcionando as melhores condições para que possa fazer sempre melhor.

E aí pai, faltou empatia, você escolheu seus anseios particulares proporcionando as maiores privações para seus filhos, a vida de abdicação que um pai deve ter lhe faltou talvez egoísmo ou não entender de fato a importância de ser pai.

Deixar bem claro aqui pai, que não há trauma algum, apenas uma constatação de um fato, pode ser duro e surpresa para alguns, mas dentro de mim essa verdade não é inconveniente.

Inconveniência aconteceu lá na pré-adolescência enquanto a maioria de meus primos e amigos pensavam em brincar eu já imaginava como ter um futuro melhor do que aquele que você tinha, depois já na adolescência ao ter que escutar que pelo fato de não morar mais com você, que você não teria mais obrigações comigo e aqui nem entrarei em detalhes de sua vida pós casamento com minha mãe.

Um pai que proporciona, valores monetários e passa meses sem falar com seu filho, está a quilômetros de distância de ser tido como um bom pai, um pai que bebe demais, come errado, não se importa com sua saúde, não tem como ensinar isso ao seu filho, são exemplos básicos pai, que com o tempo percebi que eram só palavras, mas que de fato você não tinha condições de cobrar aquilo.

A ausência de um pai, não se justifica com presentes, nem com pagar o que é obrigação legal, muito menos cobrança sem moral de como um filho deve se comportar quando o pai não demonstra nenhuma moralidade.

A proteção, o amor, suporte e carinho que um pai deve dar ao seu filho não pode ser suprida com presenças esporádicas ou quando convém, pai. Até porque pai, a ausência se da quando não há participação na vida do filho, seja pela distância ou por não estar emocionalmente presente.

E como por vezes a gente esclarece o óbvio, não se trata de lição de moral, tenho todo o carinho, zelo e amor com meu pai que prevalece, sem falar da gratidão pela vida e ensinamentos enquanto foi pai, mas nada disso apaga a realidade que ele e aos que se vejam nesse pequeno relato, está bem distante do real sentido em ser exemplo para o filho.

Suas questões comigo estão amplamente superadas e não há o que se falar em dívida paterna, não se preocupe pai, se depender algo de mim o perdão está dado, só peço a Deus que lhe perdoe ainda mais na medida em que você puder ser perdoado.

Papo de Quinta por Alex Curvello
Advogado – Presidente da Comissão de Direito Previdenciário OAB Litoral Leste Ceará
@alexcurvello

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