É impressionante quando estamos disponíveis e abertos para novas possibilidades de aprendizado, o quanto podemos aprender, mesmo com aquele que teoricamente está ali, teoricamente, para ser ensinado.
Estive recentemente a convite de meu sócio para palestrarmos sobre o direito da pessoa com autismo, ele palestrando sobre o direito da saúde e eu sobre questões previdenciárias que podem envolver determinadas pessoas que necessitam de algum benefício pago pelo INSS.
De início já fiquei surpreso com a quantidade de crianças que usam daquele direito à saúde para seus filhos com autismo, em apenas uma clínica das na cidade de Aracati, sem mencionar o Estado do Ceará e até do Brasil com milhões de pessoas que usam daquele direito.
Assim, aprendi ali em um breve relato, que a realidade de muitos se torna bem distante da que vivo, com lutas constantes para conseguir manter o direito de seus filhos, com um sistema de planos de saúde reformulando contratos, suspendendo atendimentos e cobrando muito além do que o judiciário vem determinando como adequado.
Relatos de pessoas, que teoricamente estavam ali para serem esclarecidos, mas que sempre teremos algo para aprender.
Mas infelizmente a postura ética dos planos de saúde, bem como por vezes de um Governo conivente com os abusos dos poderosos aos menos instruídos, vai de encontro com a realidade da maioria das pessoas que necessitam de um sistema “justo” e na maioria das vezes não temos soluções aceitáveis para oferecer aos problemas reais da nossa sociedade.
O aprendizado se manteve com um casal que mesmo “sem renda” formal, ao saber das condições legais para recebimento de um Benefício de Prestação Continuada ao Deficiente, entendeu que não deveria tentar, porque mesmo sem carteira assinada ou algo formalmente detectável pelo INSS, como o trabalho informal rende mais do que o que demanda a Lei, não quiseram tentar o Benefício para o filho. Por ser o que é o certo a ser feito na visão deles.
E aí, iremos sempre conviver com alguém que terá algo a nos ensinar e no caso acima exemplificado, é a justiça de fazer o certo, por questão moral do que deve ser feito.
É muito bom saber e vivenciar que existem pessoas que conseguem decidir e fazer o contrário do que muitos tentam equivocadamente dizer, mesmo que vá de encontro ao que a maioria faz.
É o que sempre acontece com as ideias do que muitos acreditam hoje em dia. O sistema cria um modelo de acordo com o que os seres humanos devem fazer e, quando as coisas são diferentes, chama a atenção pela retidão dos que creem o que deve ser feito como correto, mesmo por vezes encarando a repressão e possível redução da liberdade que o sistema impõe.
Vivemos com políticas de retenção para manter as pessoas em casa, nas escolas e afins, presas a um sistema trágico de uma sociedade que prefere ser presa a ser livre.
Não tem como desligar a torneira de maneira radical para economizar água sem explicar a importância de consumo consciente, para toda repressão teremos uma reação adversa ao pretendido.
A maioria da humanidade por séculos vivenciou o desejo de uma organização da maioria dos Governos, que nasceram para defender os direitos das pessoas, mas infelizmente vivenciamos abusos ordenados da liberdade.
Prefiro está ao lado do casal que me ensinou a possivelmente abandonar uma política de neutralidade em aceitar muitas atrocidades e fico com a dianteira dos que fazem o que é certo, até porque assim foi me proporcionado o livre-arbítrio.
Papo de Quinta por Alex Curvello
Advogado – Presidente da Comissão de Direito Previdenciário OAB Litoral Leste Ceará
@alexcurvello