“O Elmo foi a salvação da minha vida”, conta a aposentada Maria Irismar Morais, de 70 anos, que se recuperou de insuficiência respiratória causada pela Covid-19 e recebeu alta hospitalar em julho após tratamento com o capacete de respiração assistida por apenas dois dias. Ela, que chegou a ter 70% dos pulmões comprometidos, está entre os dez pacientes que receberam o suporte na fase de testes clínicos do equipamento. Considerados bem-sucedidos, os resultados desta etapa foram apresentados na última quarta-feira (4) pelo superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará e idealizador do equipamento, Marcelo Alcantara, em webinar transmitido no canal oficial no YouTube da instituição.
As pessoas tratadas com o Elmo para fins da pesquisa tinham entre 37 e 76 anos e possuíam comorbidades. O estudo para avaliação dos pacientes ocorreu nos últimos cinco meses no Hospital Leonardo da Vinci (HLV), unidade requisitada pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) durante a pandemia. Com os testes, foi possível validar as funcionalidades e usabilidade do capacete, bem como sua eficácia no tratamento de insuficiência respiratória causada pelo coronavírus.
“Os pacientes melhoraram a oxigenação e tiveram evolução clínica. Esperávamos que metade dos pacientes se beneficiassem, mas foi acima do esperado. E não eram casos leves, todos utilizavam doses altas de oxigênio. Estavam numa situação limítrofe, com risco de internação em leitos de UTI, e melhoraram relativamente rápido”, comemora Marcelo Alcantara.
Ao utilizar um mecanismo de respiração artificial não invasivo, o Elmo foi fundamental para evitar a intubação de pacientes, reduzindo em 60% a necessidade de internações em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Apenas quatro das dez pessoas que usaram o capacete no HLV precisaram ser transferidas para UTIs. O dispositivo trata quadro clínico moderado e também auxilia casos em início de gravidade.
O Elmo avança agora para uma nova etapa. O teste em paciente, que foi autorizado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), era um dos requisitos exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para autorizar a produção em escala industrial do equipamento. Com a eficácia comprovada, o aval foi concedido no dia 29 de outubro à Esmaltec, empresa que vai fabricá-lo e comercializá-lo. Já a patente do dispositivo foi registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em julho.
Funcionamento
Acomodado ao pescoço do paciente, o Elmo permite ofertar oxigênio a uma pressão definida ao redor da face, sem necessidade de intubação. Dessa forma, a pessoa consegue respirar com auxílio da pressurização e oferta de oxigênio. O sistema possibilita, portanto, a melhora na respiração e pode ser utilizado fora de leitos de UTI.
O equipamento pode ser desinfectado e reutilizado. Outro benefício é o custo inferior em relação aos respiradores mecânicos e a maior segurança para os profissionais de saúde, já que, por ser vedado, não permite a proliferação de partículas de vírus.
Além disso, o equipamento será um legado da pandemia para a saúde e pode tratar outras enfermidades que comprometem o funcionamento dos pulmões, como pneumonia e H1N1. Se o Elmo era o nome do capacete que garantia a proteção dos guerreiros medievais, nos tempos atuais irá proteger e preservar a vida de pacientes na batalha contra a Covid-19.
Ascom ESP