Afastado da Polícia Civil de São Paulo, o delegado Carlos Alberto da Cunha, 43, conhecido como Da Cunha, diz que agora é como o personagem Jack Bauer, do seriado “24 Horas”.
“É Jack Bauer. É doido? Sou mesmo. Se não me deixam trabalhar com o distintivo, eu trabalho com a caveira do justiceiro, com Deus no coração e com a audiência de vocês.” A afirmação foi feita durante uma live transmitida no Instagram e no canal do delegado no YouTube, nesta terça-feira (21).
No vídeo, que durou pouco mais de uma hora e chegou a mais de 11 mil pessoas acompanhando em tempo real, ele criticou o governador João Doria (PSDB), ameaçou o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo e voltou a se defender de processos contra ele que investigam enriquecimento ilícito com vídeos nas redes sociais de operações policiais.
A investigação é realizada pois, em tese, policiais não podem usar cargos públicos nem empregar bens e materiais da Polícia Civil para benefício próprio, conforme prevê a lei de improbidade administrativa. Ele já negou publicamente que tenha obtido ganho financeiro com postagens no YouTube, a não ser nos últimos meses, quando criou uma fundação.
Além disso, dentro do inquérito da Promotoria que apura suposto enriquecimento ilícito de Da Cunha, há depoimentos de policiais e vítimas de crimes que sustentam que ele inventou a prisão de um chefe do PCC e simulou operações nas ruas, sempre com o objetivo de gravar vídeos para o seu canal no YouTube.
Na live de terça, ele ironizou uma reportagem publicada pela revista Veja, segundo a qual Da Cunha fatura até R$ 350 mil. “Meu Deus, se eu ganhasse isso por mês, tava com as contas pagas já, resolvia em um mês a minha vida.”
Da Cunha também voltou a comentar os inquéritos, disse que querem prendê-lo e que está com a mochila pronta caso a polícia apareça na sua casa.
“Não precisa chutar a porta, é só tocar a campainha que a gente abre. Agora, se esse crime acontecer, a volta vai se chamar delação premiada. Eu cometi algum crime? Não, mas eu sei de tanta coisa…”, disse, sem especificar a que se referia. “Não tenho certeza absoluta porque ainda não investiguei, mas sei de tanta coisa.”
Da Cunha foi afastado do cargo em julho deste ano após a Corregedoria abrir uma série de procedimentos contra ele. Na sequência, o policial pediu licença sem vencimento e filou-se ao MDB para disputar um cargo eletivo. Com seus mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, ele pensa em ser governador.
Durante a transmissão desta terça, Da Cunha disse que as investigações contra ele têm cunho político. “O Doria está com medo que esse preto aqui vire governador. É para me deixar inelegível. O medo do sistema é que um homem negro de 44 anos vire o governador do estado de São Paulo”, disse.
Durante a maior parte do tempo da live, Da Cunha criticou Ruy Ferraz Fontes, delegado-geral da polícia de São Paulo, acusando-o de assédio moral e abuso de autoridade, além de afirmar que ele foi responsável por encaminhar documentos sigilosos à Folha de S.Paulo, que publicou reportagens sobre o delegado afastado.
“Eu vou fazer um vídeo demonstrando a sua ligação com a Folha de S.Paulo. Eu vou investigar se o senhor forneceu documentos sigilosos e isso vai caracterizar crime. Quem vai para a cadeia não sou eu, quem vai para a cadeira é você, Ruy”, disse.
“O marketing que você faz contra a minha pessoa é tão bom que você vai fazer eu me tornar um Nelson Mandela brasileiro, e eu sou um prego”, afirmou, ainda.
O delegado também ameaçou o chefe da instituição. “É melhor você me prender rápido. Se você não me prender e eu me tornar governador, eu nem sei o que vai acontecer contigo. Eu vou te colocar para trabalhar em um lugar que você seja útil”, disse.
Da Cunha, agora, aposta em uma série de vídeos policiais a fim de realizar “reportagens investigativas para cobrar providências das autoridades”.
“Eu vou para as ruas em nome do meu canal do YouTube, com meu carro particular, fazendo levantamento de crimes e denúncias. Depois, eu não posso efetuar a prisão, mas eu posso ligar 190, 197 ou chamar a Guarda Civil Metropolitana. Eu não estou trabalhando para a Polícia Civil de São Paulo, estou trabalhando para o povo brasileiro”, disse.