Hoje, dia 18 de outubro, comemora-se o Dia do Médico, e nada mais simbólico do que celebrar esta data homenageando este profissional tão importante, principalmente em tempos de pandemia. Médico que no sentido figurado da palavra quer dizer: aquilo que cura, que atua como remédio, e que traz a esperança. A Redação do Sinal News conversou com alguns destes profissionais que lidaram diretamente com a linha de frente da Covid-19, enfrentando um inimigo desconhecido.
Rotinas exaustivas, dificuldades, falta de contato com a família e o medo da contaminação: assim é a vivência dos médicos que lidam com esse novo cenário.
Jôsivan Carvalho, 26, é médico clínico-geral formado pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Natural de Fortaleza, cresceu no bairro da Messejana, veio de família humilde, filho de um pintor de carros e uma costureira, que sempre o incentivaram a estudar e deram total apoio. Ainda na adolescência, pensou em ser engenheiro, até que se encantou com a medicina.
Para o jovem médico, “nesse ano de 2020, enfrentamos uma das experiências mais desafiadoras que a humanidade vivenciou nos últimos tempos. Um vírus que pouco tínhamos conhecimento uniu médicos e todos os profissionais da saúde com o intuito de travar uma luta dolorosa e cheia de temores em prol da saúde de todos os cidadãos brasileiros”.
Ainda segundo Jôsivan, “diante dos medos que nos rodeavam, desde contrair o vírus até transmitir para as pessoas que amamos, como nossos pais, esposas, filhos e amigos, tivemos que fazer sacrifícios dolorosos, permanecendo distantes de quem nós mais amamos, convivendo diariamente com a saudade, e o mais difícil, vendo as vidas de nossos colegas de profissão sendo ceifadas”.
Pouco depois de está na linha de frente da covid-19, o médico contraiu o vírus. Precisou se isolar, e assim que se recuperou e foi liberado, voltou a atender na Unidade Básica de Saúde (USB) da Vila Rafael em Aracati, que funcionou em horário estendido desde o início da pandemia. “Mesmo diante de incertezas diárias, não retrocedemos, estávamos lá, sejam nas UBS, UPAS ou Hospitais, visando exercer fielmente a valorosa missão de cuidar do outro com empatia, zelo e amor”, destacou ele.
“Que esse contexto nos traga aprendizagem e a reafirmação de que o nosso trabalho não tem sido em vão, e ainda, que sempre estaremos dispostos a cumprir nossa vocação. Assim, como diria Hipócrates: ‘Curar quando possível; aliviar quando necessário; consolar sempre’. Feliz dia do médico!”, finalizou ele.
Mesmo diante dos dias de luta, há os dias de glória. Nesta perspectiva, Luan Victor Almeida Lima, 27, residente em Infectologia do Hospital São José, em Fortaleza, formado na Unichristus na capital cearense, nos conta que: “Foram dias difíceis, muitas incertezas e inseguranças, mas sempre há a esperança de dias melhores. Durante a pandemia, trabalhei na Emergência do Hospital São José, em Fortaleza. Recebíamos pacientes vindo de casa por conta própria ou de ambulância, quase sempre chegavam apresentando muita falta de ar.”
“As famílias chegavam com os pacientes já com muita falta de ar, e sempre muito preocupados e nervosos. Naqueles momentos nós tínhamos que ser um pouco de tudo, psicólogo, médico. O objetivo era acalmar os familiares e tentar conduzir os pacientes o melhor possível. Não era fácil, porque não tínhamos certeza de como salvar essas pessoas, qual medicação fazer, então tudo era muito questionável. O que hoje poderíamos ter como certo, adequado, daqui a uma semana era inadequado. Essa mistura de pacientes graves, incertezas, falta de material, acabou mexendo muito com a gente, tanto fisicamente, como psicologicamente”, relatou o médico.
“Eram horas e horas trabalhando duro, e os pacientes não paravam de chegar, foram meses bem difíceis. Eu tive que sair de casa, a princípio fui morar com outros colegas médicos em um apartamento por conta própria, depois mudados para um local fornecido pelo Governo do Estado do Ceará, para os profissionais que estavam trabalhando só com covid-19. Posso afirmar que essa foi a experiência da minha vida mais inexplicável, com uma mistura de sentimentos, entre saudades da família, medo de pegar a doença, sofrimento por ver tanta gente morrendo e a falta de insumos que nos assombrava a todo instante. Foi realmente um momento bem difícil que deixou marcas até hoje, e ainda vivemos isso. Vejo pessoas na rua sem usar a máscara, sem proteção, sem tomar as medidas de segurança, isso me deixa mais preocupado”, completou ele.
Ficar longe da família é um dos atos mais difíceis que enfrenta este profissional. Para José Jorge Pereira Alves, 64, especializado em saúde pública, que atua também como médico de saúde da família, cirurgião dermatológico no Hospital Municipal Dr. Eduardo Dias (HMED), e anestesista para obstetrícia no Hospital e Maternidade Santa Luiza de Marilac (HMSLM) em Aracati, essa é uma atividade humana especial.
A Medicina, que profissão é essa? O que dizer a um jovem que aspira exercer a medicina?
“A minha experiência no exercício de tantos anos na medicina me permite afirmar que o seu exercício não é somente o glamour que em geral se propaga em nossa sociedade. Na verdade, é uma profissão que exige que se estude sempre e muitas vezes tem uma carga de trabalho exaustiva, em que os resultados do seu trabalho nem sempre são satisfatórios para quem nos procura com a angústia da dor de se sentirem doentes, mas somos compensados pela satisfação de termos feito tudo ao nosso alcance e contribuído, na maioria das vezes, para pelo menos diminuir essas inquietações dos humanos em face da doença e do medo da morte”, destacou ele.
O experiente médico deixa um conselho aos aspirantes a essa profissão: “que estejam sempre atentos à evolução constante do saber científico, cujas mudanças são cada vez mais rápidas e constantes, exigindo uma contínua atualização de conhecimentos e tecnologia que facilitam o diagnóstico e o tratamento das doenças. Entretanto, nunca esqueçam que o ato médico é fundamentalmente um momento de relação interpessoal, entre dois seres humanos, um angustiado com um possível agravo a sua saúde e outro que se pressupõe capacitado a resolver esse problema”.
Dr. Jorge relata que no exercício da profissão de médico, e isso é que a transforma em uma “atividade humana especial”, é necessário ser humilde para compreender suas limitações, ter integridade intelectual, solidariedade humana e se dedicar a cuidar dos interesses dos pacientes mesmo às vezes quando essa atividade trás a angústia e o receio de nos transformarmos em um paciente, como nesse momento de pandemia em que muitos de nós se coloca na linha de frente do combate a essa doença imprevisível e perigosa. Momento em que me sinto angustiado até como pai por ter uma filha médica no tratamento hospitalar de pacientes com o novo coronavírus”.
A médica Marília Pereira Alves, 31, é especializada em UTI pediátrica, também está na linha de frente contra a covid-19. “Depois de tantos anos, ainda me sinto apaixonado pela minha profissão, pois é sempre satisfatório fazer parte da vida de outras pessoas, para as quais geralmente sou um estranho, mas que dividem comigo suas ansiedades e também suas alegrias”.