Desde que Joe Biden, candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, passou a liderar a apuração, o dólar se desvaloriza antes seus principais pares globais. O índice DXY, que mede a força internacional da moeda americana, recua 1,6% desde terça-feira (3), quando o país foi às urnas.
O mesmo ocorre no Brasil. Por volta das 12h50 desta quinta (5), o dólar cai 1,9%, a R$ 5,55. Na mínima, chegou a R$ 5,54. Na véspera, a moeda caiu 1,8% ante o real. O turismo está a R$ 5,71.
Segundo especialistas, dois fatores explicam o movimento: o primeiro deles é a tradição democrata de ampliar gastos do governo federal para impulsionar a economia. O segundo é a definição de um vencedor que não tem maioria na Câmara e no Senado, o que dificulta mudanças mais abrangentes na legislação do país.
“O partido democrata usa mais o balanço fiscal para impulsionar a economia e isso faz com que você tenha um país mais endividado, emitindo mais moeda, o que leva o dólar a se desvalorizar”, diz Thomás Gibertoni, especialista da Portofino Multi Family Office.
A expectativa de que a vitória democrata na presidência, Câmara e Senado estimularia gastos governamentais e levaria a uma alta na inflação levou o rendimento dos títulos do Tesouro americano a subir na terça. O rendimento do título de 10 anos foi acima dos 0,9% no início da contagem, sua marca mais alta desde junho. No momento, o juro deste papel está a 0,77% ao ano.
Apesar da contestação da apuração pelo oponente e atual presidente, o republicano Donald Trump, analistas dizem que há menos aversão a risco no mercado, o que leva investidores a se desfazerem do investimento em dólar como proteção ao cenário conturbado de pandemia e eleições.
“O dólar foi o primeiro escape do investidor no movimento de incerteza, com a alta nos casos de coronavírus na Europa. Hoje, vejo esta desvalorização da moeda como um movimento de correção, porque o mercado espera a vitória do Biden, que vem mais positiva do que o desenhado, pelo Senado ser republicano”, diz Stefany Oliveira, Analista de Investimentos da Toro.
Segundo Stefany, a queda de mais de 3% da moeda no Brasil nesta semana é um reflexo da realização de lucros dos investidores. “É a incerteza que levou o dólar a subir e agora o mercado está bem certo do que vai acontecer”.
No ano, a divisa americana se valorizou ante a maior parte das moedas emergentes, vistas como muito arriscadas em um contexto de crise econômica e incerteza. Contra o real, o dólar sobe 38% em 2020.
“A entrada do Binden tira a pressão que vimos nos últimos anos com a política protecionista do Trump, principalmente esfriando a guerra comercial com a China, desta forma a expectativa de um clima mais calmo faz que os investidores saiam da posição de proteção em dólar e voltem a países emergentes”, diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
Júlia Moura/Folhapress