A taxa de câmbio voltou a refletir nesta quinta-feira (31) o apetite dos investidores pelo Brasil. O dólar caiu 0,50%, a R$ 4,7610, após ter fechado em alta na véspera. Com isso, a moeda americana acumulou nos primeiros três meses de 2022 um tombo de 14,6%, o maior para um trimestre desde junho de 2009.
No mês, o mergulho foi de 7,6%. A última vez que a desvalorização mensal do dólar frente ao real havia encostado nos 8% foi em outubro de 2018. A cotação da divisa dos Estados Unidos também permanece entre as menores registradas durante a pandemia de Covid-19, iniciada em março de 2020.
O real é a moeda com maior retorno frente ao dólar neste ano. Outras moedas da América Latina também se valorizaram nesse período, como o sol peruano e os pesos chileno, colombiano e mexicano.
A fraqueza da divisa americana frente a esses países demonstra o interesse de investidores internacionais em faturar com a valorização das commodities, um dos efeitos da guerra na Ucrânia, e com os juros altos que economias em desenvolvimento estão pagando enquanto os títulos do Tesouro de nações economicamente desenvolvidas, principalmente os dos Estados Unidos, oferecem retorno negativo em relação à inflação.
O real também fecha o trimestre com o quarto melhor retorno de juros entre os países emergentes, atrás apenas do peso argentino, da lira turca e do rublo russo, nessa ordem. Atualmente a taxa básica de juros brasileira (Selic) é de 11,75% ao ano, com expectativa de chegar a 12,75%.
O apetite de investidores estrangeiros pelos juros pagos pela renda fixa de países emergentes nesta sessão pode ter ganhado ainda mais respaldo com o plano americano para frear a inflação global com um despejo de petróleo no mercado. Como subir juros é a resposta mais elementar dos bancos centrais à alta de preços, um ataque à principal causa da inflação reduz expectativas sobre aumentos acima do esperado da taxa nos Estados Unidos.
PETROBRAS SUSTENTA ALTA, MAS IBOVESPA CAI
Na Bolsa de Valores do Brasil, o Ibovespa não conseguiu sustentar os 120 mil pontos. Após oscilar perto da estabilidade, o principal índice do mercado de ações do país cedeu 0,22%, fechando em 119.999.
No trimestre, porém, o ganho acumulado é de 14,5%, o maior desde dezembro de 2020. No mês, a alta de 6,06% é a maior desde janeiro.
Nesta quinta, as ações mais negociadas da Petrobras subiram 1,39%. Os papéis da estatal brasileira lideraram a lista dos ativos mais movimentados e permaneceram no azul apesar da queda do petróleo.
PETRÓLEO CAI COM PLANO DE BIDEN PARA LIBERAR RESERVAS DOS EUA
A administração de Joe Biden anunciou um plano para liberar aproximadamente um milhão de barris de petróleo por dia das reservas estratégicas dos Estados Unidos.
Até 180 milhões de barris poderiam ser liberados durante alguns meses. O plano é usar as reservas para combater a inflação dos combustíveis, que foi acelerada pela forte valorização da matéria-prima a partir do início da invasão da Rússia à Ucrânia.
É a maior liberação de estoques de petróleo da história, segundo informação atribuída à RBC Capital pelo The Wall Street Journal.
Os americanos também planejam liderar outros países na liberação das suas reservas estratégicas, o que ampliaria de forma maciça a oferta e pressionaria a queda dos preços.
Com isso, os preços do petróleo mergulhavam 4,88% no início da noite desta quinta. O barril Brent era negociado a US$ 107,91 (R$ 511,19).
A notícia da liberação de estoques foi a principal responsável pela queda da commodity no mercado internacional nesta quinta, segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
A valorização do petróleo no último mês, atingindo as cotações máximas desde 2008, é um dos principais sintomas sobre a visão do mercado de que as sanções à Rússia, um dos principais exportadores, podem reduzir a oferta por um longo período, dando fôlego para a alta da inflação global.
A Alemanha ativou seu plano de emergência para garantir o abastecimento de gás diante das ameaças de suspensão do fornecimento russo.
Pelo segundo dia seguido, a Bolsa de Frankfurt fechou em queda. O índice DAX, referência do mercado alemão, cedeu 1,31%. O dia também foi de queda nos mercados de Londres e Paris, que perderam 0,83% e 1,21%, respectivamente.
Nos Estados Unidos, o indicador de referência para ações negociadas em Nova York, o S&P 500, recuou 1,57% neste último dia de março. No trimestre, houve queda de 4,95%, no primeiro tombo para um fechamento trimestral desde março de 2020. Na ocasião, porém, o mercado americano havia afundado 20% devido ao início da pandemia.
Também fraquejaram nesta quinta o Dow Jones, que recuou 1,56%, e a bolsa de tecnologia Nasdaq, com perda de 1,54%.
Desde o início deste ano o mercado acionário americano está devolvendo ganhos acumulados ao longo da pandemia. A retomada das atividades econômicas gerou a maior inflação em 40 anos e obrigou o Fed (Federal Reserve, o banco central do país) a encerrar um programa de estímulos que injetava dinheiro no mercado por meio da compra de títulos imobiliários e do Tesouro.
Neste mês, o Fed também elevou os juros de referência do país pela primeira vez desde 2018, tirando as taxas do zero e indicando mais ajustes até o fim deste ano.
O aumento foi de 0,25 ponto percentual e, inicialmente, o mercado avaliava que os próximos ajustes seriam na mesma medida. A pressão inflacionária ampliada pela guerra na Ucrânia, porém, tem levado analistas a cogitar que o Fed apertará o crédito de forma mais agressiva.
Elevações robustas nos juros americanos podem provocar fuga do capital alocado em países emergentes para a segurança dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, o que só não está ocorrendo neste momento devido aos juros elevados oferecidos por economias em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.