Eclipsado pela Covid-19, o sarampo vem causando preocupação entre os moradores do Amapá.
A doença, que já adquiriu status de surto no estado nortista, provocou dois óbitos de bebês, o que não acontecia há pelo menos duas décadas. As mortes foram divulgadas pelo governo do estado nesta sexta-feira (14).
De acordo com a Superintendência de Vigilância e Saúde do Amapá, as vítimas residiam em locais distintos: uma morava na capital, Macapá e a outra numa aldeia indígena do município de Pedra Branca do Amapari.
Em Macapá, o óbito foi registrado no dia 28 de março. A bebê tinha sete meses de vida e começou a apresentar os sintomas de sarampo no dia 24 de fevereiro. Ela não estava vacinada.
Já a bebê indígena que morreu de sarampo tinha quatro meses, idade ainda fora da faixa etária de vacinação. Ela era irmã gêmea de uma outra menina e ambas morreram -uma no dia 19 de abril e a outra no dia 1º de maio.
Exames realizados mostraram que apenas a que morreu no dia 19 faleceu de sarampo. A segunda não resistiu às complicações clínicas da dengue.
Os dois óbitos por sarampo registrados no Amapá foram confirmados em testes laboratoriais realizados pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Os resultados positivos para a doença também haviam sido detectados pelo Lacen (Laboratório Central do Amapá).
Entre janeiro e 11 de maio, o Amapá registrou 320 casos confirmados de sarampo. O número supera todas as notificações da doença em 2020, com 297 ocorrências.
O boletim da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, com dados atualizados até abril, mostrava que os casos de sarampo do Amapá correspondiam a 80,6% das notificações da enfermidade em todo o país.
A baixa cobertura vacinal e a incidência do coronavírus, que inibiu a ida dos pais aos postos de saúde, são as duas causas apontadas pelo governo do Amapá para o surto da doença no estado.
Para contornar a situação, o estado criou um plano de ação que, entre as medidas, fará busca ativa de pessoas em suas residências para serem vacinadas –as crianças estão no alvo das operações.
João Farias, coordenador de doenças transmissíveis da Superintendência de Vigilância Sanitária do Amapá, também disse que o plano estadual deve reforçar as equipes de vigilância nos municípios, aprimorar as campanhas de conscientização sobre a vacinação e estreitar a relação com o Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena).
ENTENDA A DOENÇA
O sarampo é uma doença viral extremamente contagiosa que debilita a saúde, principalmente, de crianças menores de cinco anos, desnutridas e imunodeprimidas.
Seu contágio acontece a partir de gotículas de pessoas doentes ao espirrar, tossir, ou falar próximo a pessoas sem imunidade contra o vírus do sarampo, obtida com a vacinação.
Os principais sintomas são febre acompanhada de tosse, irritação nos olhos, nariz escorrendo ou entupido e mal-estar intenso. Em torno de 3 a 5 dias, podem aparecer manchas avermelhadas no rosto e atrás das orelhas que, em seguida, se espalham pelo corpo.
O sarampo pode ser evitado por meio da vacina tríplice viral, imunização que também previne a caxumba e a rubéola. Mas o Amapá enfrenta dificuldades para garantir a cobertura vacinal na população prioritária.
A campanha de vacinação iniciada em janeiro deste ano pretende alcançar 138.469 pessoas no estado, mas só imunizou até agora pouco mais de 50 mil.
Em regiões sob surto, o ministério da Saúde recomenda o uso de três doses da vacina: primeira dose, para crianças entre seis meses e 11 meses de idade; segunda dose, para crianças com 12 meses; e a terceira, para quem tem 15 meses de vida.
Adultos com até 29 anos devem tomar duas doses, caso nunca tenham sido inoculados. Para pessoas acima de 29 anos, uma dose da vacina já é suficiente.