A fila de espera por leitos de UTI para tratamento de Covid-19 no país atingiu, na última quinta-feira (25), uma marca trágica: são 6.371 pessoas aguardando por um atendimento. Os dados são de um levantamento feito pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) obtido com exclusividade pelo Jornal Nacional.
De acordo com o conselho, só no estado de São Paulo são 1.500 pacientes. Os demais estados que aparecem com maior contingente são: Minas Gerais (714), Rio de Janeiro (582) e Paraná (501) e Ceará (400). O número de pessoas em fila de espera é quase equivalente ao número de passageiros que ocupariam o cruzeiro de luxo Caribbean Seas (6.680), ou à lotação máxima de sete aviões e meio do tipo Airbus 380 (6.340).
Segundo Carlos Lula, presidente do Conass e secretário do estado de saúde do Maranhão, embora o recorte de pacientes em fila de espera para leitos de UTI mude diariamente no país, a situação atual é um “desastre”.
“Esse número é só de pacientes aguardando por leitos de UTI para atendimento de Covid, não fizemos o levantamento para pacientes não-Covid. Então o que está acontecendo hoje no Brasil é que estamos perdendo pacientes sem ter sequer acesso a um leito, e sem contar ainda os pacientes de outras comorbidades.”
O presidente do conselho falou ainda que a falta de leitos de UTI já era um problema apontado no início do ano, quando pacientes graves no estado do Amazonas foram transportados para outros estados por falta de leitos. “Hoje nenhum estado tem leito para ajudar, e a expansão de leitos é muito dificultada, pois faltam também insumos, pessoal e oxigênio.”
De acordo com boletim do Observatório Covid-19 BR, divulgado pela Fiocruz nesta sexta-feira (26), 25 das 27 unidades da Federação estão com ocupação crítica de leitos, acima de 80%. Apenas AM (79%) e RR (64%) estão com ocupação abaixo desse limiar.
Ainda, alguns estados, como MS (106%), RO (100%) chegaram a ocupação máxima ou ultrapassaram -indicando maior espera por leitos do que a capacidade existente. Estados como SC (99%), MT (99%), RS (97%), CE (97%), PE (97%) e Distrito Federal (99%) estão muito próximos da capacidade máxima.
O levantamento do Conass foi feito colhendo diretamente os dados das secretarias estaduais de saúde. O presidente do conselho explica que não há um painel centralizando os dados no Ministério da Saúde, o que dificulta ainda mais o conhecimento do panorama em que o país está.
Ainda, a impressão, segundo o secretário, é de mudança no perfil dos internados em 2021 em comparação a 2020, o que ele atribui a uma maior circulação do vírus entre os jovens e também às variantes do vírus, mais graves e com maior transmissibilidade.
“O perfil mudou drasticamente. Quando fazia o circuito de leitos em 2020, eu via muitos pacientes com idade acima de 60 anos. Hoje, são mais jovens. É claro que a maior letalidade das novas variantes deve ser comprovada com estudos epidemiológicos, mas a impressão é de maior gravidade.”
Embora as discussões sobre estabelecimento de um lockdown nacional sejam ainda dificultadas, principalmente pelo momento de cisão política, para ele o Ministério da Saúde precisa agora atuar em dois problemas principais: a falta de oxigênio nas cidades e a iminente falta de kit de intubação.
“O país pode entrar em colapso por isso. Além de fornecer esses insumos, é essencial acelerar a vacinação. Nós só vamos ver uma estabilidade no sistema no final de abril/início de maio, quando a maior parte das pessoas com idade acima de 60 anos já forem vacinadas”, diz.
O Brasil enfrenta o pior momento da pandemia. No último mês de março, além de atingir a triste marca de 300 mil mortos, o país quebrou diversos recordes de número de óbitos em um dia e seguiu por mais de 25 dias com recordes na média móvel de mortes, interrompidos na última quarta-feira (24), mesmo dia em que houve problemas nos registros de óbitos.
O país bateu também recorde de número de casos na última quinta-feira (25), com mais de 97 mil casos registrados nas últimas 24 horas.