Fósseis de dinossauros e outros animais que viveram há pelo menos 80 milhões de anos foram encontrados durante a escavação de uma obra de pedágio na rodovia SP 294, entre Irapuru e Pacaembu (SP), a 630 quilômetros de São Paulo, na região de Presidente Prudente. Os artefatos estavam a 20 metros do solo e foram achados na escavação de uma galeria construída para o escoamento de água das chuvas.
Foram encontrados no local fragmentos de ossos de dois tipos de dinossauros diferentes: saurópodes (“pescoçudos”) e terópodes (bípedes que tinham pés com três dedos) –ainda não é possível apontar a espécie exata desses animais. Além disso, a escavação encontrou cascos de quelônios (como tartarugas e cágados), escamas de peixes e dentes de crocodiliformes (ancestrais dos jacarés atuais), segundo o paleontólogo Fabiano Vidoi Iori, que trabalhou no local por 15 dias.
Pesquisador do Museu de Paleontologia Pedro Candolo, em Uchoa, ele foi acionado em março pela Eixo SP, concessionária da rodovia que estava construindo o pedágio, informou a descoberta e logo paralisou a obra. “Eles entraram em contato com o museu e mandaram uma foto dizendo que desconfiavam de que tinham encontrado fósseis. Eu fui até lá e logo encontramos uma vértebra de um titanossauro, os pescoçudos que tinham maior predominância aqui na América do Sul”, conta Iori.
Os pesquisadores identificaram o material nas paredes da escavação e pediram autorização da ANM (Agência Nacional de Mineração) para quebrar as rochas e remover os artefatos. “Foi um trabalho com martelo, talhadeira, mas também com retroescavadeira. Como era uma obra grande, usam máquinas para escavações que a gente não consegue ter acesso como pesquisadores, o que facilitou”, conta.
O encontro de parentes de tartarugas e crocodilos indica que a região foi no passado flúvio-lacustre, nas palavras do paleontólogo, ou seja, era um rio ou um lago. O paleontólogo explica que a região fica na bacia sedimentar de Bauru. “É uma região que, no passado, recebeu sedimentos de áreas mais altas, que ocorreram no Cretáceo [de 145 a 65 milhões de anos atrás], que foi o último período em que viveram os dinossauros”, diz Iori.
“Os sedimentos de areia e lama foram carregados para essas regiões mais baixas e, no meio disso, também vieram restos biogênicos, carapaças, dentes e ossos. Com o passar de milhões de anos, essa lama vai se tornando rocha sedimentar, e é como se fosse uma cápsula do tempo. Aprisiona todos os restos biogênicos que tinham ali, a lama vira rocha sedimentar e os ossos dão origem aos fósseis”, completa.
O pesquisador afirma que, apesar de ter identificado os grupos a que pertencem esses animais, ainda é preciso descobrir de que espécie são, um trabalho que poderá ser realizado ao longo de todo este ano. Além disso, outra descoberta importante foram coprólitos, fezes fossilizadas, que podem dar informações sobre hábitos alimentares desses animais.
A partir daí é que se deve ter uma noção melhor da relevância do achado dos fósseis, que os pesquisadores estimam ter entre 90 milhões e 80 milhões de anos. Os fósseis estão no Museu de Paleontologia de Uchoa e estarão expostos na reabertura do espaço, hoje fechado devido às restrições da pandemia da Covid-19.