O podcaster Monark (Bruno Aiub) foi desligado do canal Flow após falas em que defendeu o direito de existência de um partido nazista. Os Estúdios Flow também divulgaram nota pedindo desculpas, em “especial à comunidade judaica”, e informando sobre a retirada do ar do episódio. O caso repercutiu negativamente, o Flow Podcast perdeu diversos patrocinadores e tem sido alvo de muitas críticas.
“Reforçamos o nosso comprometimento com a democracia e direitos humanos. Assim, o episódio 545 do Flow Podcast foi tirado do ar em todas as plataformas. Comunicamos também a decisão de que, a partir deste momento, o youtuber Bruno Aiub (@Monark) está desligado dos Estúdios Flow.”
Consultado pela reportagem, o Estúdio não confirmou se Monark deixará apenas a apresentação dos programas e se ele seguirá com alguma participação acionária.
A Flash Benefícios divulgou nota na qual anuncia o encerramento formal da relação contratual com o canal após os comentários “inadmissíveis dos quais discordamos”.
A Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) também rompeu o contrato de transmissão dos jogos de seu campeonato estadual com os Estúdios Flow.
As transmissões da edição deste ano da competição eram realizadas pelo Flow Sport Club, braço esportivo dos Estúdios Flow.
“A Ferj, defensora da igualdade, do respeito e contrária a qualquer tipo de preconceito, anuncia o rompimento do contrato com o Estúdios Flow, responsável pelo podcast Flow Sport Club, que transmitia jogos do Campeonato Carioca de 2022, por apologia ao nazismo, regime cujos crimes contra a humanidade até os dias de hoje causam horror a qualquer um que preze pela vida”, escreveu a entidade em nota publicada nesta terça-feira (8).
A Insider Store foi outra empresa a repudiar as falas de Monark sobre partidos nazistas e anunciar “total desligamento como patrocinadores do Flow Podcast”.
O comentário do apresentador foi feito na segunda (7), em entrevista com os deputados federais Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (DEM) -que também tem recebido críticas.
“A esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço, na minha opinião “, disse Monark. “Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei.”
Tabata Amaral rebateu o podcaster. A rejeição ao comentário de Monark, porém, não se limitou apenas à fala da deputada no programa.
Outras marcas como Bis Lacta, Puma, Ragazzo repudiaram os comentários do apresentador e afirmaram que, embora tenham feito patrocínios pontuais ao canal, não possuem mais relações comerciais.
Nesta terça-feira (8), Monark gravou um vídeo no qual pediu desculpas pelas declarações e disse que estava bêbado.
“Eu errei, a verdade é essa. Eu estava muito bêbado. Eu fui defender uma ideia, que é uma ideia que acontece em outros lugares do mundo, nos EUA, por exemplo. Mas eu fui defender essa ideia de um jeito muito burro. Eu estava bêbado”, afirma.
Ainda no vídeo, ele diz que falou “de uma forma muito insensível com a comunidade judaica. Eu peço perdão pela minha insensibilidade”.
O podcaster pediu ainda um pouco de compreensão com o que aconteceu. “São quatro horas de conversa. Eu estava bêbado, fui insensível sim e errei na forma como me expressei. Dá a entender que eu estou defendendo coisas abomináveis, é uma merda. Errei pra caralho “.
No fim do vídeo ele voltou a pedir desculpas para a comunidade judaica e convidou representantes para participarem do programa e “me explicarem mais sobre toda a história”.
Não é a primeira vez que o canal recebe críticas e perde patrocinadores por causa de afirmações de Monark.
No final de outubro, em uma série de tuítes, ele fazia uma defesa da liberdade de expressão, inclusive, do direito de as pessoas terem opiniões racistas. Na época iFood anunciou o cancelamento do patrocínio ao Flow e disse em nota que “repudiava qualquer tipo de discriminação”.
Nesta terça, o apresentador Benjamin Back, do SBT, comentou em suas redes sociais que gostaria de ter o episódio no qual participou do Flow Sport Club retirado do ar. Back, que é judeu, teve o pedido atendido.
Comentarista da ESPN e especialista em esportes americanos, Antony Curti participaria do podcast na sexta-feira (11), mas também cancelou sua entrevista.
Junior Coimbra, filho de Zico, informou que seu pai cancelou a ida ao Flow Sport Club. O ídolo flamenguista tinha uma participação no podcast marcada para esta terça.
O jornalista do UOL Mauro César afirmou que não aceitaria os convites do canal para uma entrevista após o ocorrido.
O deputado Kim Kataguiri também tem sido criticado nas redes sociais. Internautas e políticos de esquerda questionam o posicionamento do parlamentar durante a participação no programa.
O líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, pré-candidato ao governo de São Paulo, afirmou que é “inaceitável e abominável” o que foi defendido no Flow. “Aliás, Kim do MBL votou no miliciano e agora ficou em silêncio.”
A deputada federal Vivi Reis (PSOL-PA) afirmou que o “deputado Kim Kataguiri disse que foi errado a Alemanha criminalizar o nazismo, ontem no Flow Podcast, enquanto um dos apresentadores defendeu a existência de um partido nazista. Tudo publicamente para uma audiência de milhares de pessoas. Perderam definitivamente o medo”.
Em defesa ao parlamentar, o MBL (Movimento Brasil Livre), do qual Kim faz parte, afirmou que “Lula já elogiou Hitler; o PSOL já queimou bandeira de Israel. A esquerda passa pano. O Kim propõe uma maneira de COMBATER o nazismo mostrando às claras todas as atrocidades de quem defende essa ideologia. Esquerda ataca. Não faz o menor sentido”.
Kim Kataguiri afirmou que suas declarações estão sendo distorcidas. Nas suas redes sociais, ele escreveu que “o que eu realmente disse sobre o nazismo: muito melhor expor a crueldade dessa ideologia nefasta para que todos vejam o quanto ela é absurda. Sufocar o debate só faz com que grupos extremistas cresçam na escuridão e não sejam devidamente combatidos e rechaçados”.
O deputado afirmou ainda que “distorceram um debate sobre como é a melhor maneira de rechaçar o nazismo -todos na mesa obviamente concordaram em combater e repudiar o regime”.
No Brasil, o crime de apologia do nazismo é normalmente enquadrado no artigo 20 da lei 7.716 de 1989, que prevê pena de dois a cinco anos de reclusão para quem fabrica, comercializa, distribui ou veicula símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica para divulgar o nazismo.