Policiais que participaram operação policial na Vila Cruzeiro, que resultou em uma chacina com 23 mortos, prestaram depoimento à Delegacia de Homicídios da capital. No entanto, a Polícia Civil não informou quantos agentes foram ouvidos. A ação policial aconteceu na última terça-feira (24), na zona norte do Rio de Janeiro.
De acordo com a instituição, as armas desses agentes foram apreendidas e periciadas. Testemunhas também foram ouvidas. A previsão é que outras pessoas sejam chamadas a depor ao longo da próxima semana.
“As investigações estão em andamento” e “seguem para apurar todas as circunstâncias que envolveram o fato”, informou a Polícia Civil através de nota.
Entre as vítimas estão Gabrielle Cunha –moradora da Chatuba, favela vizinha à Vila Cruzeiro, que foi baleada dentro de casa, e um ex-militar da Marinha, Douglas Costa Donato, morto após deixar uma festa onde estava na companhia de amigos de infância.
Segundo a PM, a operação tinha como objetivo prender chefes do CV (Comando Vermelho), responsável pelo tráfico de drogas na localidade. No grupo, segundo a corporação, havia também suspeitos vindos de outros estados que estariam escondidos na favela.
Ainda de acordo com a PM, a operação estava sendo planejada há meses, mas foi deflagrada de modo emergencial para impedir o deslocamento de um grupo de 50 traficantes para a Rocinha, comunidade da zona sul.
APÓS OPERAÇÃO, PM CULPA STF
Ainda com a ação em andamento na Vila Cruzeiro, a Polícia Militar atribuiu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a responsabilidade pelo aumento de traficantes de outros estados em comunidades do Rio em referência à limitação de operações policiais no Rio de Janeiro.
“A gente começa a perceber essa movimentação, essa tendência de ligação com o Rio de Janeiro a partir da decisão do STF. Isso vem se acentuando nos últimos meses e essa tendência, esses esconderijos nas nossas comunidades são fruto da decisão do STF. A gente está estudando isso, mas provavelmente é fruto dessa decisão que limitou as ações das forças policiais do estado na comunidade”, avaliou o coronel Luiz Henrique Marinho.
Dos 22 mortos que já foram identificados, cinco eram de outros estados: três do Pará, um da Bahia e um da Amazônia.
Após declaração, o presidente da Corte, o ministro Luiz Fux, disse que está esperando satisfações da PM. Já o ministro Gilmar Mendes lembrou que foi graças a outras decisões do STF que o Rio de Janeiro não sofreu um colapso financeiro.
PREJUÍZO PARA O TRÁFICO
Após a ação da favela, a Polícia Militar estimou um prejuízo de R$ 5,2 milhões ao CV (Comando Vermelho).
De acordo com a PM, foram apreendidos 14 fuzis automáticos usados em guerras convencionais -todos seriam de fabricação estrangeira, com capacidade de disparar até 800 tiros em apenas um minuto.
O alcance dessas armas de guerra chegaria a 1,5 km, com precisão no tiro de 500 metros.
“Isso explica, por exemplo, porque um desses disparos, efetuados do alto da Vila Cruzeiro, atingiu mortalmente a cabeleireira Gabrielle [Ferreira da Cunha, 41] na comunidade da Chatuba. Explica também por que disparos efetuados do mesmo complexo de comunidades atingiram na semana passada um helicóptero comercial, que voa a cerca de 300 metros de altura em relação ao solo”, informou a corporação.