A escalada de novos casos da Covid-19 neste início de ano ampliou a pressão sobre os hospitais e fez com que quatro estados atingissem o patamar acima de 80% na ocupação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
O cenário é parecido ao registrado em julho de 2021, quando a segunda onda de Covid-19 começava a refluir no país.
Ceará e Goiás são os estados com maior pressão no sistema de saúde pública e registraram uma ocupação de 87% dos leitos para pacientes graves. Na sequência, aparecem Pernambuco com 86% e Espírito Santo com 80%.
Em Pernambuco, o governo tem anunciado a abertura de novos leitos para pacientes com síndrome respiratória aguda grave para atenuar o novo pico de influenza e de Covid-19. Com 952 leitos, o estado registrava uma fila de espera de sete pacientes nesta segunda (17).
A nova alta levou o governo do estado a implantar medidas restritivas para o setor de eventos, limitando a capacidade a 3.000 pessoas, e a determinar a exigência do passaporte vacinal para a entrada em bares, restaurantes, cinemas, teatros e museus, até 31 de janeiro.
A explosão de casos de Covid também se reflete na testagem. Em duas semanas, o percentual de pessoas que fizeram o teste e tiveram a doença detectada saiu de 3% para 23%.
Para o acesso a testes gratuitos no Recife, a população chega a enfrentar até quatro horas de espera em filas. Nos laboratórios privados, os principais relatos são de dificuldade de agendamento e demora para o resultado ser divulgado.
Assim como em Pernambuco, o cenário em Goiás é de alerta diante da alta proporção de internados. Na rede pública estadual, há 87% de ocupação dos leitos de UTI para Covid-19 voltados para adultos, que são 163 ao todo. Enquanto isso, 32 pessoas aguardavam um leito de UTI nesta terça (18), de acordo com o governo de Goiás.
A pressão sobre o sistema de saúde levou a administração da capital goiana a proibir festas de Carnaval. Além disso, o decreto publicado nesta terça (18) limita a 500 pessoas a ocupação em qualquer estabelecimento, afetando sobretudo grandes eventos. Uma parte dos servidores públicos da prefeitura foi autorizada a voltar ao trabalho remoto.
O Ceará, que registrava uma taxa de ocupação de 86,6% nesta segunda, também sofre com baixas entre os médicos, enfermeiros e técnicos.
O afastamento de cerca de 15% profissionais de saúde da rede pública com sintomas gripais, incluída Covid-19, desde dezembro passado, fez o governo estadual abrir seleção para mais de 150 vagas temporárias para médicos de diversas especialidades.
No Espírito Santo, o percentual de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 está em 80%. Para dimensionar a nova escalada da doença, a Prefeitura de Vitória disponibiliza a partir de desta terça (18) 470 testes rápidos de Covid-19 por dia, que podem ser agendados pela internet.
Um ano após o colapso do sistema de saúde e das mortes de doentes por asfixia em hospitais, o Amazonas também registra um cenário preocupante, atingindo a marca de ocupação de 77% dos leitos públicos de UTI direcionados para pacientes do novo coronavírus. O número de leitos intensivos ocupados saltou de 18, no início do mês, para 58, nesta segunda.
Ainda assim, a pressão hospitalar está longe de se equiparar ao cenário do ano passado. No pico da transmissão, as redes pública e privada chegaram a ter 753 leitos de UTIs e 1.977 leitos clínicos ocupados, com uma fila de espera de mais de 500 pacientes.
Segundo o governo do Amazonas, a média móvel de casos teve alta de 1.007% no estado entre os dias 1º e 13 de janeiro. O maior crescimento, de 2.493%, foi identificado em Manaus. Apenas nesta segunda (17), foram confirmados 2.674 casos no estado.
Especialistas têm afirmado que a vacina ajuda a frear o agravamento das infecções, evitando o caos que ocorreu no estado com a variante gama no ano passado. Eles dizem porém, que medidas urgentes são necessárias para evitar novas mortes e a sobrecarga dos profissionais da saúde.
Até o momento, o Amazonas aplicou 5,6 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. Cerca de 72% da população acima de 12 anos está com o esquema vacinal completo.
Com o avanço da ômicron, o governo decidiu adiar para o dia 14 de fevereiro o início presencial do ano letivo nas escolas da rede pública estadual. O desfile das escolas de samba foi cancelado.
“Já prevíamos um aumento exponencial de casos, mas não tão grande. A variante ômicron tem uma transmissibilidade muito elevada e provoca uma quantidade bem menor de quadros graves, mas é diferente de não provocar quadros graves”, afirma o médico Anoar Samad, secretário estadual de Saúde.
Na Bahia, a taxa de ocupação de leitos de UTI da rede pública era 65% nesta terça (18). Do total de 545 leitos disponíveis, 352 estão ocupados por pacientes com Covid-19.
No estado de São Paulo, a taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid alcançou 54% nesta segunda (17), com tendência de alta. O índice de ocupação era de 39% em 10 de janeiro e de 25% no primeiro dia do ano.
Na capital, o cenário é mais preocupante, com uma ocupação de 69% dos leitos para pacientes graves com Covid-19.
“A última vez que a capital paulista havia registrado uma taxa de ocupação de UTI de 69% foi no final de junho de 2021, cenário em que não tínhamos ainda grande parte da população vacinada com o esquema completo”, lembra Wallace Casaca, coordenador da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp com apoio da Fapesp.
O estado tem aberto novos leitos para dar conta da demanda. O número de leitos de UTI para Covid-19 disponíveis aumentou de 4.021 para 4.455 entre os dias 7 e 17 de janeiro, em um crescimento de 11%.
“Embora menos letal que as demais variantes, a ômicron tem um ritmo de contágio sem precedentes, levando a um ‘tsunami’ de pessoas infectadas em um curto intervalo de tempo. Em números, isso se traduz em um grande volume de pessoas diariamente à procura de leitos hospitalares, causando sobrecarga no sistema de saúde”, diz Casaca.
A Secretaria de Estado da Saúde afirmou que, preventivamente, desacelerou em janeiro qualquer redirecionamento dos leitos exclusivos para a assistência do coronavírus e, se necessário, ampliará a assistência exclusiva.
O estado do Rio de Janeiro enfrenta um cenário mais tranquilo, com apenas 10% dos leitos de terapia intensiva da rede estadual ocupados por pacientes com Covid-19.
Por outro lado, há pressão na capital: a taxa de ocupação de UTIs públicas subiu rapidamente e chegou a 64% nesta segunda. O número de internados em enfermarias e leitos intensivos para Covid mais do que triplicou em seis dias –de 163 para 624, entre 11 e 17 de janeiro.
Estado e capital sofrem uma grande baixa de profissionais de saúde afastados pela doença. Todas as cirurgias eletivas foram suspensas por um mês na rede estadual, pela falta de funcionários (que já bate 20%), pelo risco de contaminação e pela redução das doações de sangue.
Na rede municipal, 4.888 foram dispensados em menos de 20 dias, obrigando as unidades a reorganizar as escalas de trabalho e levando a prefeitura a contratar 1.280 pessoas para reforçar o atendimento. Outras 400 estão em processo de admissão.
A rede federal também já sente as consequências –o Rio tem seis hospitais da União, o maior número do país. O hospital Cardoso Fontes suspendeu os atendimentos da emergência na última sexta (17), porque 45% dos profissionais estão com Covid ou influenza.