Três dias após conquistar a primeira medalha da ginástica artística feminina do Brasil, a prata no individual geral, Rebeca Andrade deu continuidade à história que está escrevendo nas Olimpíadas de Tóquio. Num capítulo ainda mais emblemático, ela ganhou a medalha de ouro na disputa do salto neste domingo (1º).
Rebeca é a primeira brasileira a ganhar duas medalhas na mesma edição olímpica. E ela ainda poderá conquistar a terceira. Nesta segunda-feira (2), disputará a final do solo, às 5h57 (de Brasília). O único brasileiro a somar três medalhas no mesmo evento foi o canoísta Isaquias Queiroz na Rio-2016, com duas pratas e um bronze.
O recorde total de medalhas entre as brasileiras é da judoca Mayra Aguiar e da ex-levantadora Fofão, com três conquistas em edições diferentes. Em menos de uma semana, Rebeca também poderá igualar essa marca.
Na entrevista que deu aos jornalistas presentes em Tóquio, ela afirmou que desconhecia esses números. “Não sabia disso não, mas me sinto muito orgulhosa de mim, porque consigo representar a força da mulher. As pessoas sabem como é difícil estar aqui, então imagina como é difícil trazer duas medalhas.”
Se na última quinta (29) a paulista de Guarulhos e representante do Flamengo precisou mostrar que era uma das ginastas mais completas do mundo para ficar com a prata na competição que envolve os quatro aparelhos (salto, solo, trave e barras assimétricas), a medalha deste domingo também permitiu que ela brilhasse em sua maior especialidade.
A média dos seus dois saltos foi 15.083, abaixo do que apresentou na classificação, mas suficiente para garantir a conquista histórica. A americana Mykayla Skinner ficou com a prata (14.916), e a sul-coreana Yeo Seojeong, com o bronze (14.733).
“No individual, a medalha representou todo o mundo, todas as gerações que já tinham passado e a de agora. Foi um orgulho enorme, porque era uma coisa que parecia que a gente precisava, mesmo eu não colocando essa pressão em mim. Hoje dedico especialmente para o meu treinador, Francisco Porath, porque a gente trabalhou muito duro. Ele está feliz demais, e eu fico mais feliz pela felicidade dele do que pela medalha”, afirmou.
Faz tempo que os saltos de Rebeca estão entre os melhores do mundo, mas as três cirurgias que ela precisou fazer para reconstituir o ligamento cruzado anterior do joelho direito a impediram de obter nos últimos anos uma medalha nas principais competições. O salto preocupa especialmente por forçar essa parte do corpo nas aterrissagens.
A última operação foi antes do Mundial de 2019, que pôs em dúvida sua participação nos Jogos de Tóquio, quando eles ainda ocorreriam em 2020. O adiamento provocado pela pandemia de Covid-19 se mostrou benéfico para a atleta recuperar o ritmo de treinos e a confiança.
“Usei todas as cartas que eu tinha. Eu saltei dupla [pirueta] e meia, que é uma coisa que as pessoas falavam que eu não ia fazer, porque é ruim para o joelho, mas eu treinei muito, estava preparada. Se eu ficasse pensando nisso [lesões], eu não faria mais ginástica. Eu estou bem, forte, com a mente boa, pronta para fazer. Fui lá e fiz”, explicou sobre o o seu segundo salto, chamado de Amanar.
“Mesma coisa com o Cheng [nome do primeiro salto que fez]. Não colocava na internet porque é muito melhor surpreender hoje aqui, com todo mundo vendo. Acho muito mais gostoso de curtir. Usar tudo o que já tinha foi uma decisão muito sábia”, completou.
Ausente do individual geral e do salto, a americana Simone Biles também abriu mão do solo, sob a justificativa de que precisa preservar sua saúde mental. A última chance de a grande estrela dos Jogos competir será na trave, na terça-feira (3). A brasileira Flavia Saraiva está classificada para essa final.