Pesquisadores do Instituto Pasteur, da França, tornaram pública a primeira evidência mais forte sobre uma recombinação das variantes delta e ômicron da Covid. Tal evento não é, pelo menos até o momento, motivo de preocupação.
Os dados sobre a recombinação foram publicados no GISAID, base de dados internacional em que são depositados genomas de vírus, como os de variantes do Sars-CoV-2.
Segundo o próprio GISAID, o vírus recombinante vem circulando desde janeiro em diversas regiões da França e há detecções de genomas semelhantes na Dinamarca e nos Países Baixos (ainda não se sabe se derivam de um único ancestral).
Em uma postagem no Twitter, nesta terça-feira (8), Maria Van Kerkhove, epidemiologista e líder técnica da OMS (Organização Mundial da Saúde) para Covid-19, afirmou que esse tipo de recombinação é esperado com a intensa circulação das variantes ômicron e delta e que a equipe da OMS está acompanhando e discutindo o assunto.
No fim de fevereiro, o tema já tinha sido discutido por especialistas em uma sessão de perguntas e respostas da OMS. Na ocasião, Kerkhove tranquilizou as pessoas quanto aos eventos de recombinação e explicou que esse processo é basicamente uma junção de “pedaços” de uma variante com “pedaços” de outra.
“Não quero assustar as pessoas com a ideia de recombinação”, afirmou Kerkhove, em 22 de fevereiro. “Talvez comecemos a ver recombinações. Isso pode acontecer, mas pode ser um reflexo de uma melhor vigilância.”
Na mesma ocasião, Lorenzo Subissi, cientista da OMS, afirmou que os coronavírus são conhecidos pela recombinação. “Nós vemos isso muito em morcegos”, disse. “Quanto mais o vírus circula, maior a chance desses eventos acontecerem.”
Subissi afirmou que a recombinação deve ser pensada da mesma forma que as mutações, que acontecem o tempo todo, e que não necessariamente produzem efeitos no funcionamento do vírus.
Anderson Brito, virologista e pesquisador do Instituto Todos pela Saúde, afirma que um vírus recombinante não necessariamente terá uma vantagem competitiva. “Logo, até o momento, não representa maiores preocupações.”
O virologista aponta, porém, que as recombinações são relativamente raras e de difícil detecção. Três linhagens recombinantes já foram descritas durante a pandemia, segundo ele, com a recombinação de B.1.634 e B.1.631 (conhecida como linhagem XB) sendo a que mais se espalhou, principalmente por Estados Unidos e México. Atualmente, porém, ela é muito difícil de ser encontrada.