A chegada de 2020, trazendo a pandemia a reboque, incendiou ainda mais a disputa por assinantes entre as plataformas de conteúdo sob demanda e embolou a batalha entre a TV e o streaming.
Com parte da população em quarentena e refém de passatempos caseiros, a audiência da televisão teve algum respiro enquanto o streaming teve um estouro de público.
Plataformas como Netflix, Globoplay e Amazon Prime Video não costumam divulgar dados de assinatura e visualizações, mas o aumento de buscas por seus conteúdos no Google e os alertas de congestionamento das redes de internet são indicativos de que, se a pandemia fez bem para algum negócio, foi para o do conteúdo sob demanda.
O Disney+, aliás, completou em novembro um ano de vida. A meta era alcançar entre 60 e 90 milhões de assinantes até 2024 –mas, depois de só 13 meses, o serviço atingiu a marca de 86 milhões. Isso após uma ajudinha do Brasil, que deu boas-vindas à plataforma no mês passado.
Com investimentos pesados neste novo mercado e uma parceria com o Globoplay, o Disney+ se posiciona agora para bater de frente com a Netflix, líder de mercado, tendo como parte de seu arsenal conteúdos de marcas como Pixar, Marvel e “Star Wars”.
A Disney ainda anunciou que, em junho de 2021, deve lançar na América Latina uma segunda plataforma, o Star+, equivalente ao Hulu, com conteúdo julgado “adulto demais” para o bom-mocismo de Mickey e sua turma. A ele vai se somar a HBO Max, da Warner.
Esse último serviço esteve no centro de uma polêmica que divide opiniões. A exemplo do que fez o streaming da Disney com vários de seus conteúdos, a HBO Max resolveu adicionar um aviso e uma contextualização no início do clássico “… E o Vento Levou”, devido a trechos considerados racistas.
O impasse surgiu diante dos protestos do Black Lives Matters. Na mesma toada, a emissora Paramount Network cancelou o reality “Cops”, que há 31 anos acompanhava a rotina de policiais sem problematizar a violência na série.
No embalo da luta racial, o Emmy, principal premiação da TV americana, bateu o recorde de atores negros indicados em sua 72ª edição, embora latinos e asiáticos fossem praticamente ignorados.
Uma das indicações que vingaram foi a de Regina King, de “Watchmen”, também premiada como melhor minissérie. A trama, que aborda as tensões raciais nos Estados Unidos, ajudou a HBO a liderar a lista do Emmy, num sinal de prestígio à televisão tradicional.
No Brasil, uma decisão sem precedentes interrompeu as gravações de novelas. Em março, a Globo suspendeu as filmagens de “Amor de Mãe” e de seus outros folhetins que estavam no ar, diante do coronavírus. A solução foi reprisar novelas antigas e até mesmo jogos de futebol, numa curiosíssima volta ao passado.
Já a programação jornalística da emissora e de outros canais foi expandida, para ampliar a cobertura sobre a pandemia, ganhando reforço da CNN Brasil, que debutou em março.
Outra alternativa que se apresentou para driblar a quarentena foram programas como “Amor e Sorte” e “Diário de um Confinado”, gravados remotamente, e que se debruçaram sobre os temas e as aflições trazidos pela Covid-19.
Voltando à faixa das nove, até agora, nem sinal de Lurdes, personagem de Regina Casé em “Amor de Mãe”. Mas a trama, encurtada e adaptada, terminou de ser gravada e deve voltar no começo de 2021.
Para isso, a Globo precisou adotar uma série de protocolos de segurança, assim como fizeram suas concorrentes. Auditórios, por exemplo, foram esvaziados, e máscaras e álcool em gel entraram em cena. No caso da dramaturgia, porém, as coisas complicam.
As novelas precisaram sofrer adaptações para evitar cenas de intimidade, aglomerações, gravações externas e a presença de atores mais velhos nos sets. Em “Salve-se Quem Puder”, por exemplo, placas de acrílico ajudaram os casais da ficção a ficarem pertinho, mas em segurança.
Em paralelo, vários medalhões perderam contratos de exclusividade, numa estratégia que a Globo diz ser uma necessidade de se adequar à nova realidade do mercado. Tarcísio Meira, Glória Menezes, Antônio Fagundes, Renato Aragão e Miguel Falabella não são mais empregados fixos.
Outra figura que deixou a Globo depois de décadas foi Regina Duarte, mas por vontade própria, quando decidiu aceitar convite de Bolsonaro para ser secretária especial da Cultura, numa passagem rápida e frustrada pela política.
Na reta final de 2020, uma bomba foi detonada nos corredores da Globo. Marcius Melhem, ex-diretor do núcleo de humor da emissora, foi acusado de assédio sexual e moral por diversas colegas, incluindo Dani Calabresa. Hoje fora do canal, ele nega as acusações e diz que vai à Justiça contra a advogada das supostas vítimas, no que se anuncia como uma novela que vai se arrastar 2021 adentro.