Quatro horas antes da partida de futebol começar na Arena Castelão, em Fortaleza, profissionais das forças de segurança do Estado do Ceará já estão em seus postos para garantir o policiamento externo e interno essencial para o evento esportivo. São policiais como a Capitã Maria Freitas, subcomandante da 3ª Companhia (Policiamento de Eventos) do 2º Batalhão de Policiamento de Choque da Polícia Militar do Ceará (PMCE). “Nós chegamos bem antes para preparar o policiamento e fazer a preleção, repassando tudo que vai acontecer durante o jogo, e ficamos até a dispersão da torcida”, diz a capitã.
Mas o esquema de segurança começa a ser planejado com bastante antecedência. É o que explica o tenente-coronel e comandante do BPChoque, Eduardo Landim. “A quantidade de policiais sempre será variável de acordo com a análise de risco de cada partida. Por exigência legal, há um plano de segurança elaborado pelo time mandante. Esse plano é discutido pelos órgãos envolvidos, como a Federação Cearense de Futebol, o clube visitante, o Ministério Público do Ceará, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e Polícia Civil, além dos órgão municipais como Autarquia Municipal de Trânsito, Guarda Municipal, Agência de Fiscalização de Fortaleza e Regionais”, explica Landim.
Cabe à PMCE, portanto, a fiscalização dentro e fora do estádio – antes e depois do apito final. As ocorrências registradas durante as partidas são atendidas pela Delegacia e Juizado do Torcedor localizados no estacionamento da Arena Castelão.
Uma força-tarefa que tem o apoio de 260 câmeras espalhadas por diversos setores do estádio. O monitoramento é realizado no Centro de Controle de Operações (CCO) pela Secretaria do Esporte (Sesporte), Polícia Militar e Polícia Civil.
Reforço em defesa das mulheres
Tecnologia e olhos atentos para prevenir ou responder, por exemplo, a situações de importunação sexual e/ou assédio. É o que observa a capitã Maria. “As torcedoras que vêm ao estádio sempre relatam situações que parecem comuns porque muitas mulheres ainda não têm conhecimento do que se classifica como importunação sexual. É um excesso que ocorre na comemoração do gol ou na ida ao banheiro. No monitoramento conseguimos verificar essas situações e, a depender do que está acontecendo, vamos até a mulher e, se ela se sentir constrangida, oferecemos uma policial feminina para acompanhá-la”, afirma.
Qualquer Delegacia de Polícia Civil pode registrar casos de assédio e/ou importunação sexual. Sendo situação de flagrante, o caso é encaminhado para a delegacia da área. “Nós sempre temos uma mulher policial em cada setor do estádio. Mas, se for necessário, encaminhamos o caso até a delegacia especializada”, garante a Capitã Maria, ressaltando que ainda existe uma dificuldade dos relatos se transformarem em denúncias.
O que para a fisioterapeuta e torcedora Júlia Assunção, 25, representa mais proteção. “Eu, minha amigas e minha família nos sentimos mais seguras porque nós, mulheres, estamos expostas a todo tipo de assédio. Isso nos traz mais conforto e tranquilidade para curtir o nosso lazer, a nossa festa, com muita alegria”, comemora.
Durante os eventos esportivos, a Arena Castelão também tem a presença do Ônibus Lilás, um equipamento da Secretaria da Proteção Social (SPS) que dispõe de equipe especializada em atendimento biopsicossocial e assistência jurídica. O serviço é integrado por psicóloga, assistente social e advogada especialista em advocacia feminista preventiva, resolutiva e mediação de conflitos.
Segundo o titular da Sesporte, Rogério Pinheiro, a integração entre o trabalho intersetorial e a tecnologia tem sido fundamental para garantir ao público um bom espetáculo no estádio. “Recentemente, foi feita, junto ao Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), a interligação desse sistema com algumas câmeras localizadas nas vias de acesso à Arena Castelão. Disponibilizamos dois operadores para fazer esse monitoramento a todo tempo. Esse trabalho integrado permite, por exemplo, receber jogos de grande porte com duas torcidas. Importante ressaltar as reuniões entre Sesporte, SSPDS e as torcidas. A gente trabalha para que as belas festas continuem a acontecer em nossa arquibancada”, pontua o secretário.
Entenda o esquema de segurança
Em dias de jogos, o policiamento da área externa da Arena Castelão é de competência do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio). A ação inicia-se na aproximação dos raianos com equipes do Comando Tático Motorizado (Cotam) e Forças Táticas em apoio à Guarda Municipal nos terminais. O que resulta em escoltas das torcidas organizadas e das delegações dos times, reforçando o policiamento especializado nas principais vias de acesso ao estádio.
No entorno, a atuação da Cavalaria complementa essas escoltas, com presença ostensiva e mobilidade para inibir possíveis atos de violência. O Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) presta fundamental apoio à Agefis no controle e na fiscalização do comércio ambulante, por exemplo.
Já o BPChoque é responsável pelo planejamento e execução do policiamento interno, que se inicia nos portões e rampas, catracas, áreas de circulação do público, bares, banheiros, arquibancada e campo, evitando invasões e garantindo a segurança da arbitragem. “Nesse intervalo também é feita a conferência dos instrumentos, faixas e bandeiras das torcidas organizadas”, completa o tenente-coronel Landim.
Na primeira rodada da Série A do Campeonato Brasileiro de 2023, realizada no último sábado (15), na Arena castelão, o Fortaleza recebeu o Internacional, e mais de 270 policiais atuaram na operação. Já no sábado anterior (8), durante o segundo jogo da decisão do Campeonato Cearense 2023, disputado entre Ceará e Fortaleza, o efetivo mobilizado contou com mais de 400 policiais, distribuídos no policiamento interno e externo. Mais de 56 mil pessoas foram registradas nessa final.
“A PMCE está mantendo a dinâmica de duas torcidas no estádio (mandante e visitante), fator de maior risco, mas ainda assim consegue diminuir os índices de violência, fato diferente em alguns outros estados que adotaram nos principais clássicos a torcida única”, conclui o tenente-coronel Landim.
Quando o hino nacional começar a tocar um pouco antes da bola rolar, à beira do gramado se posicionam os escudeiros e os pinças. “Os escudeiros, utilizando fardamento padrão do Batalhão, têm a finalidade de proteção dos protagonistas secundários: os árbitros e seus auxiliares. Os pinças usam uniformes mais leves, e como o nome já sugere, a missão deles é pinçar o invasor de campo e encaminhá-lo à autoridade competente. O monitoramento é muito importante para os pinças. Em determinados eventos, também contamos com a 4ª Companhia do BPChoque, que atua no policiamento com cães”, reforça o capitão Jarian do BPChoque.