Hoje (25), a cidade de Aracati comemora 178 anos de emancipação política e nada mais simbólico do que celebrar esta data reabrindo portas do que antes era um casarão antigo e que agora renasce como espaço de arte. Neste especial do Sinal News você conhecerá um pouco da história deste patrimônio, bem como um Aracati para além de suas belas praias. Afinal, a cultura de um povo se constrói assim – contando e preservando.
E por falar nisso, o Casarão, localizado na Rua Coronel Alexanzito, mais conhecida como Rua Grande, ao lado do Museu Jaguaribano, tem muita história para contar. Se as paredes de lá falassem, contariam que o prédio data do séc. XVIII e que por ele já passaram inúmeras pessoas, destacando-se três gerações de famílias diferentes.
“Ele pertenceu inicialmente a José Barroso de Melo, pernambucano que tinha negócios aqui em Aracati. Posteriormente, esse sobrado ficou para o filho dele, José Fidelis Barroso de Melo Júnior e foi onde nasceu o bisavô do escritor cearense Gustavo Barroso. Depois disso o sobrado ficou pertencendo ao Barão de Messejana, que morou nele até meados de 1888, quando se retirou para Recife. Logo em seguida, a baronesa vendeu a propriedade ao Coronel Alexandrino, pai do Coronel Alexanzito”, conta o historiador Antero Pereira.
Vasculhando em meio ao seu acervo histórico, Anterinho destaca ainda que o então casarão composto apenas pelo sobrado da esquina funde-se ao prédio vizinho depois que Alexandrino compra a outra propriedade a Antônio Figueiredo. Depois do falecimento de Alexandrino, em 1909, o bem passa então para o filho, Coronel Alexanzito, que morou lá até 1949, falecendo no Rio de Janeiro. Deixando um grande legado para a história da cidade, tendo o seu nome inclusive batizado a Rua Grande. “Era um sobrado que era o centro do poder econômico, financeiro e político de Aracati por muitos anos, enquanto o Alexanzito foi vivo”, elenca o historiador.
Museu de grandes novidades
Gerson Lima, arquiteto do projeto original da restauração do novo espaço, conta que conheceu o prédio quando ele ainda era propriedade do CDL. “Quando entrei pela primeira vez no sobrado eu fiquei impressionado com a riqueza de detalhes e luxo da edificação. Vi logo que se tratava de um dos últimos exemplares que sobreviveram ao tempo, preservando suas características do começo do século XX, era chamada de Belle Epóque. No quintal, embaixo do terraço, ainda se viam marcas de onde ficavam as baias dos cavalos. E todo o pavimento térreo ainda preservava aquele aspecto de espaço comercial, enquanto o pavimento superior tinha o requinte de uma residência de alto padrão da época”, explicou ele.
Em seguida os restauradores Carolina Alves e Merlin Alves assumem o serviço de prospecção, conservação e restauração da pintura da edificação, juntamente de uma equipe incansável com o objetivo de transformar todo o ambiente em Espaço das Artes, sem deixar, obviamente, que ele perdesse sua estética de outrora, preservando traços, arte e muita história. “Nossa primeira tarefa aqui no Sobrado do Barão de Messejana foram serviços de prospecções. A gente objetiva o conhecimento profundo do imóvel histórico e subsidiar”, destacou a restauradora.
Sobre o processo, Alves fala: “É uma espécie de pesquisa arqueológica que permite que a própria matéria do edifício nos conte a sua história. Por exemplo, podemos abrir uma sequência cronológica de informações sobre as cores que uma parede já recebeu e informações de tintas e técnicas. Assim, se preenche alguns vazios documentais sobre as primeiras características arquitetônicas do Sobrado e sobre as modificações ocorridas ao longo do tempo – sejam de intervenções de reformas feitas pelas famílias que aqui viveram ou por intempéries. É potencialmente interessante pra se devolver ao público a
memória sobre o bem e sobre a sociedade que o construiu.”
“Internamente, ambientes apresentam pinturas decorativas de valor muito simbólico pro seu período histórico, algumas muito bem preservadas por conta das antigas técnicas e materiais duráveis empregados. Nelas, os procedimentos de restauração por nós realizados aconteceram com uso de material compatível e respeitaram essas técnicas, a originalidade do traço, a expressão visual e cultural”, conclui ela.
Quando o turismo e a cultura se encontram
Que Aracati já é reconhecido mundialmente por suas belas praias não há como negar. O nosso rico litoral encanta a todos que aqui residem e a todos que por aqui passam. Mas falar em turismo vai muito além de se restringir a sol e mar. Principalmente numa cidade com tanto potencial histórico.
“Cuidar do passado é preservar a história e garantir vida no futuro. A restauração de sítios históricos, como acontece hoje no Aracati, fornece instrumentos para que a sociedade, comerciantes e diversos atores se envolvam no turismo e assim promova a inclusão social”, destacou a turismóloga Eliane Curvello.
Para Curvello, a transformação de um prédio que estava se deteriorando em um espaço para linguagens artísticas faz com que a população ganhe e que o turista amplie o olhar. “O Centro Histórico valorizado e restaurado aumenta a visitação, consequentemente, incide diretamente na cadeia produtiva da atividade. E, movimentá-la, influencia no desempenho do comércio”, finaliza a turismóloga.