Aos sete anos, Tânia Regina (66) já fazia os primeiros pontos de crochê. Aprendeu sozinha, fascinada por um grupo de senhoras que se reuniam para tecer peças, em um quiosque, próximo ao seu colégio. Usando um grampo de cabelo e alguns fios, transformou sua curiosidade em forma e peças, que se desenvolveram junto à ela. “O artesanato permeia minha vida toda. Eu já trabalhei na parte administrativa, escritórios, e o artesanato me acompanhou o tempo todo”, lembra. “Hoje eu estou morando em Guaraciaba do Norte, e sempre tive o sonho de ter uma equipe trabalhando comigo, um grupo, uma associação. E aqui eu consegui realizar”, completa ela, que desde 2019 está presidente na Associação de Artesãos de Guaraciaba do Norte (GuaraciArtes).
Suas peças estrearam na tela da Globo, esta semana, junto a produções de artesãs e artesãos de todo o Estado. Elas compõem o cenário da loja da Tia Salete, em “No Rancho Fundo”, folhetim das 18h, da emissora. “Ver as nossas peças na feira da CeArt, nas exposições, para mim já é uma loucura. Aí quando eu vi na televisão, eu quase caí da cadeira. Não por ser bobo, é pelo veículo que é, pelo alcance que tem. É você ultrapassar barreiras. A intenção não é essa, mas quando chega nesse nível… é uma grande realização, um reconhecimento”, completa.
A trama da novela dá destaque ao artesanato, e grande parte do acervo é oriundo da Central de Artesanato do Ceará (CeArt), ferramenta estadual de desenvolvimento do artesanato, coordenada pela Secretaria da Proteção Social (SPS).
Responsável pela curadoria dos produtos neste projeto, o fundador da Marco 500, Marco Aurélio Pulchério, visitou a CeArt em abril, para selecionar as peças. “Aqui [na CeArt] já existe uma curadoria impecável, já tem um padrão de qualidade, a gente consegue colocar isso de uma forma fácil de controlar a parte de logística. Está sendo fácil de se levar, porque tudo é bonito”, afirma.
Entre as seleções estão redes, jogo americano, colchas, cestos de palha de carnaúba, além de pufes, esculturas e móveis. Marco Aurélio destaca que a loja é um dos principais cenários da novela, e reflete a personalidade da personagem, que também é artesã. “O principal sentido desse projeto é a gente levar visibilidade para todas as artesãs do País. Que tem seu dia a dia voltado para o artesanato têxtil, para os bordados, para as rendas, a valorização dessa categoria em especial. E o Ceará vai estar representando as artesãs do País todo”, explica.
Com peças exclusivamente cearenses, a loja traz uma pegada colorida e irreverente. Além das peças comercializadas pela CeArt, estarão as vendidas pela empresa Catarina Mina. A ideia é que, para além da composição do cenário, as peças tenham um papel na trama.
Titular da SPS, Onélia Santana destaca a importância deste espaço para o artesanato cearense. “Marcar presença em uma emissora, a nível nacional, é sem dúvida um reconhecimento para nossos produtos e nossos artesãos. O nosso artesanato é história, é identidade, é beleza. Valorizar o artesanato é valorizar nossa memória, mas também é apoiar artesãos e artesãs, que mantêm viva essa tradição”, afirma.
Também presentes no cenário estão as peças da Associação dos Produtores de Artesanato, Gestores Culturais e Artistas de Icó (Aproarti). Maria Soares (62), uma dos mais de 50 artesãos que integram o grupo, explica que ver suas peças na TV é “um reconhecimento”. “Mesmo a gente primando pelo acabamento, fazendo tudo com muito cuidado, foi uma surpresa. A gente se sente muito orgulhosa, um orgulho bom. Isso dá mais vontade da gente continuar, valorizar o que a gente tem”, reflete.
Tendo como carro-chefe o bordado rococó, o grupo cria bancos, tapetes e almofadas inspiradas na arquitetura do município. “Antes de nossa cidade ser tombada, muita coisa foi destruída, mas ainda temos muitos prédios. Alguns deles são revestidos com azulejo português. Foram neles azulejos que a gente se inspirou para fazer essa coleção que está na novela”, lembra.
Peças sob medida
De Juazeiro do Norte, o artesão Cícero Evânio, mais conhecido como Panta, também contou com criações expostas na novela. Panta é o artista por trás do santo do pau oco, peça que esteve no centro da trama, servindo de esconderijo para o diamante azul. O santo foi encomendado diretamente para a novela e trata-se de um Santo Antônio que viajou mais de 2.191 km da terra do Padim Cícero para as telas do Brasil.
“Eu sinto que tudo começa a fazer sentido como eu sempre imaginei porque o meu principal objetivo sempre foi conquistar o meu espaço e mostrar que os artistas daqui também têm capacidade de chegar cada vez mais longe”, conta. O trabalho de Panta é repleto de fé e traduz na madeira a dedicação e devoção pela arte sacra.
Sobre a CeArt
Equipamento da Secretaria da Proteção Social (SPS), a CeArt trabalha o artesanato cearense como uma política de geração de emprego e renda a partir de saberes tradicionais.
Por meio da CeArt, o artesão tem acesso a serviços como cadastro para emissão de identidade artesanal, que garante isenção no Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); participação em feiras e eventos; além de cursos e oficinas, que melhoram a qualidade, inovação e consequentemente a competitividade dos grupos artesanais do Estado.