Os mais remotos registros da presença humana na Terra destacam os conflitos. Nas guerras antigas e medievais, por exemplo, Elmo era uma proteção, espécie de capacete, que protegia a cabeça de soldados envolvidos nas batalhas. Em 2021, na luta contra a Covid-19, Elmo é o nome de um capacete de respiração assistida – fruto de pesquisa e inovação no Ceará – que tem recuperado pacientes da insuficiência respiratória, consequência de complicações da doença.
O servidor público Fábio Santiago, de 39 anos, é um dos inúmeros sobreviventes da batalha contemporânea contra um inimigo invisível, que impõe a todos o uso correto de máscara, a lavagem constante das mãos e o distanciamento social. Residente de Chorozinho, na Região Metropolitana de Fortaleza, Santiago teve a chance de utilizar o Elmo no Hospital Estadual Leonardo da Vinci.
“Eu estava na UTI quando surgiu a luz que foi utilizar o capacete Elmo. Foram cinco dias de tratamento, sempre evoluindo. O Elmo permitiu que eu voltasse pra minha família. Espero que ele possa devolver muitas outras pessoas às suas famílias e para continuarem suas histórias. O capacete salva vidas!”, diz emocionado ao lembrar que estava a ponto de ser intubado, com o comprometimento de 80% dos pulmões.
Para o dispositivo recuperar pacientes do Ceará, como Santiago, e de outros estados brasileiros – sim, o capacete cearense já é utilizado em lugares como Goiás, Amazonas e Maranhão –, pesquisadores cearenses de várias áreas estavam diante da pressão de buscar uma solução local, de rápido desenvolvimento e que pudesse salvar vidas. Na ocasião, início da pandemia, em 2020, cientistas do mundo inteiro descobriam, a cada dia, como o novo vírus agia. Já os governos e autoridades sanitárias corriam contra o tempo para sanar o dilema da falta de respiradores mecânicos, essenciais para manter a atividade pulmonar em casos de maior gravidade da doença.
A busca por uma solução cearense
Além de caros, os equipamentos eram escassos e a indústria da saúde era desafiada para atender à alta demanda gerada ao redor do mundo. No Ceará, o Governo adquiriu 700 ventiladores chineses para atender os cearenses de imediato, mas persistia a inquietude de um grupo ávido por inovação em saúde.
Em abril de 2020, uma reunião na Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) tinha como ponto de partida a produção própria de um respirador mecânico. A capacidade local não foi questionada, mas o tempo era um entrave. A produção de ventiladores mecânicos teria de sair do papel o mais rápido possível. “Foi aí que disse que era inviável. E sugeri um ‘helmet’ que era adotado em outros países”, relembra Marcelo Alcantara, superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), acerca do momento em que sugeriu o desenvolvimento do capacete Elmo.
O dispositivo foi inspirado na experiência de médicos italianos que usaram máscaras de mergulho no tratamento de pacientes com Covid-19 e no uso de ‘helmet’, capacetes hiperbáricos, utilizados em doenças de descompressão na Europa e nos Estados Unidos.
Assim foi consolidada a força-tarefa que reuniu Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), ESP/CE e Funcap, com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/Ceará), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade de Fortaleza (Unifor), com o apoio do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH) e Esmaltec. A união de especialistas da iniciativa público-privada transformou a idealização de um equipamento em um produto de menor custo que os respiradores e que pudesse ser produzido em larga escala no estado cearense.
Desenvolvimento e consolidação do equipamento
Quando os pesquisadores começaram a desenvolver o Elmo, boa parte das reuniões eram virtuais por causa das circunstâncias da pandemia. Até uma impressora 3D foi utilizada para produzir peças dos primeiros experimentos. O foco era que o Estado tivesse todos os componentes e matéria-prima necessários para a produção.

Capacete Elmo
Feito com silicone e PVC, o dispositivo foi desenvolvido para oferecer oxigênio em alto fluxo para o paciente internado. O equipamento envolve toda a cabeça do paciente e é fixado no pescoço em uma base que veda a passagem de ar. Com a aplicação de oxigênio e ar comprimido, o Elmo gera uma pressão positiva (em relação à pressão atmosférica) que ajuda pacientes com dificuldade de oxigenação.
Dessa forma, é indicado para o tratamento de pacientes com quadro clínico leve e moderado, mas também auxilia casos que começam a evoluir para gravidade, de modo a evitar também a intubação do paciente.
O capacete também proporciona que o gás carbônico não seja expelido no ambiente, o que é mais uma vantagem. Não havendo contaminação, o aparelho garante a maior segurança dos profissionais de saúde. Com sua produção firmada, dois anos foram reduzidos a três meses, período no qual o equipamento passou por concepção, desenvolvimento e consolidação do protótipo a partir dos testes de usabilidade para averiguar sua adequação e conforto em voluntários sadios. O próximo passo era testar sua eficácia em pacientes infectados pelo coronavírus.