Pouco mais de um ano depois dos protestos que incendiaram o Chile, deixaram 30 mortos e dezenas de feridos e forçaram o governo a convocar um plebiscito histórico, o país foi em massa às ruas neste domingo (25) para decidir se quer ou não uma nova Constituição.
Neste domingo, os chilenos puderam votar a partir das 8h e na maior parte do dia, o clima foi tranquilo na capital, com muitos policiais nas ruas.
Uma hora e meia antes do fechamento das urnas, marcado para as 20h, um grupo de manifestantes e policiais chegaram a se enfrentar na praça Itália, recentemente rebatizada de praça Dignidade.
As ruas na região foram fechadas, e os policiais usaram jatos de água para dispersar os grupos, que retrocederam. Em seguida, aos poucos, uma multidão pacífica começou a encher a praça com bandeiras gigantes, batucada e clima de comemoração, para aguardar os resultados da apuração dos votos.
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, votou ainda de manhã no centro da capital e disse esperar que “este seja o dia da democracia e da expressão pacífica da vontade dos chilenos e da rejeição a métodos violentos de grupos como os que incendeiam igrejas e provocam distúrbios”.
Ao eleitor são oferecidas duas cédulas, em uma delas, o eleitor escolhe se aprova ou rejeita a elaboração de uma nova Constituição. Na outra, diz se prefere que a nova Carta, caso aprovada, seja realizada por uma Assembleia Constituinte totalmente eleita numa votação em abril, ou se será mista. Nesta segunda opção, metade dela seria formada por parlamentares que já exercem seu mandato e seriam escolhidos pelos partidos, sem nova votação. A outra metade, por constituintes eleitos em abril. Em ambos os casos, na nova eleição, 50% dos novos escolhidos devem ser mulheres.
A atual carta chilena foi promulgada em 1980, durante a ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-1990) e com pouca participação popular. Liberal, ela não obriga o Estado a fornecer diretamente saúde, educação e proteção social, o que estimula a atuação privada nessas áreas. Os que defendem alterar o texto acham que uma mudança constitucional poderia obrigar o governo a ser mais atuante e ampliar o acesso da população a serviços básicos.
Atualmente, o voto é obrigatório no Chile ara os cidadãos entre 18 e 70 anos. Entre os protocolos estabelecidos para o referendo deste domingo, também foram reservados horários para os idosos, das 14h às 17h.
Os resultados do referendo estavam previstos para serem divulgados ainda na noite deste domingo –seguindo a tradição chilena de ser eficiente nas contagens eleitorais.
Com 90% das urnas apuradas, os resultados apontavam 78% dos votos como favoráveis a uma nova Constituição. Além disso, 79% preferiam que o texto seja debatido por uma nova comissão a ser eleita posteriormente.
Sylvia Colombo/Folhapress