O Sinal News entrevistou a escritora Nadyegida Barbosa do Rêgo, que nasceu em Teresina, no Piauí, mas com seis meses chegou ao município de Aracati, litoral leste do estado do Ceará, e fez morada.
A autora se descreve como apaixonada pela cidade dos bons ventos, tanto que todas as suas histórias tomam vida em ruas, praças e beira de rio e mar do Aracati.
Ela acaba de lançar o livro de contos intitulado ‘Chão de Vento’. Nele contêm cinco histórias. “Quando eu era criança, lia Antero Pereira (que me deu um feedback bonito!) e o via entrevistando meu avô. Sempre gostei de observar muito e escrever também. Quero propor a divulgação dessas histórias que criei”, diz a autora.

Batemos um papo com a escritora, que também é advogada e pesquisadora. Confira entrevista na íntegra:
Sinal News: Nadyegida, primeiro conta para nós sobre sua relação com a cidade de Aracati.
Nadyegida Barbosa do Rêgo: Vivo de amores pela nossa cidade. Meu avô, Chagas de Velho, era muito querido pelos amigos, viveu muitas coisas e conduziu meu olhar afetivo sobre o Aracati. Sempre fui muito curiosa, ando muito a pé pela cidade. Eu sei o cheiro de jasmim que a Rua Grande possui, eu sei qual tom de laranja/vermelho o céu possui em cada período do ano, sei dos autores da cidade – Antero Pereira entrevistava meu avô sobre os causos antigos e eu ficava ouvindo pela centésima vez a mesma história, mas com o mesmo encantamento. Meu amor pelo Aracati está nos detalhes, no cheiro, na intensidade da luz, no som dos pássaros, no beijo interminável do Rio Jaguaribe com o Oceano Atlântico. Tenho amor pela cidade, pelas pessoas e pela minha história. Aracati é o meu lugar de fala!
SN.: Sobre seu livro, o ‘Chão de Vento’, do que se trata? Quais foram suas maiores inspirações?
NBR.: O livro reúne cinco contos selecionados, todos eles se passam de alguma forma no Aracati e têm como protagonista uma mulher. É um livro pequeno, escrito na minha modalidade favorita: o conto. Tem uma frase do Cortázar que diz “O romance vence por pontos, mas o conto vence no nocaute”; essa frase traduz meu favoritismo pelo conto, porque ele é, relativamente, curto, mas certeiro, sangra ou cura.
Minhas maiores inspirações foram as histórias e as pessoas humildes que convivi, ouvi ou que, a partir do encantamento pela cidade, me fizeram moldar em verbo e linha algumas histórias. Sou leitora dos clássicos e até gosto deles, mas eu prefiro a vida que segue silenciosa ou implícita pelo Aracati. Nossa cidade é linda, padece de problemas reais (isso humaniza a cidade, que bom) e sob os meus olhos há momentos que eu me reconto tudo em câmera lenta.
Pelo livro, tento segurar o(a) leitor(a) pela mão e mostrar como eu vejo o Aracati, uma cicerone orgulhosa, atenta e encantada.
SN.: Como é que podemos adquirir a obra?
NBR.: Essa pergunta é importante. “Chão de Vento” é gratuito na versão PDF. Se o(a) leitor(a) desejar, deixei uma versão em MOBI (Kindle) na Amazon. O livro é 100% digital, mas já penso em incluir mais histórias e publicá-lo junto a uma editora. Começo dizendo que é uma pergunta importante, porque está muito próximo um sonho bonito: criar um Projeto Social na cidade. Quero trazer tudo que aprendi dentro e fora do Brasil, para comunidades em vulnerabilidade social e esse livro na sua versão gratuita já é parte desse sonho realizado.
SN.: Você além de escritora também é advogada. Como concilia as duas carreiras? Uma é capaz de auxiliar a outra?
NBR.: Sou Advogada na área de Propriedade Intelectual e Direitos Civis, atuo somente onde me sinto impulsionada e forte para isso. Neste mês de abril, comemoro 10 (dez) anos de pesquisa na grande área das Ciências Sociais Aplicadas, sou Commitment Maker e Leader Team pela Clinton Global Initiative (2015, 2016 e 2018). Também sou Gestora Social e Professora Voluntária num Projeto Social em Fortaleza/CE e Mestranda em Avaliação de Políticas Públicas (PPGAPP/UFC), estudando vulnerabilidade, território e gênero.
Faço questão de dizer tudo isso, porque tenho uma origem muito humilde, já passei por muitas coisas na vida e a educação, a literatura e arte me salvaram. Todas as atividades que eu mantenho até hoje, mesmo com a Pandemia por COVID-19, são caminhos que eu criei ou que lutei muito para ter acesso. Quero voltar ao Aracati com conhecimento para oferecer à cidade o que há de melhor, melhor de mim: essa é a minha forma de agradecer à terra dos bons ventos por, nos momentos mais difíceis, ter soprado meus olhos e me livrado da realidade. Não concordo com Drummund, o mundo vale o mundo sim.
SN.: Em tempos tão difíceis, como você enxerga a arte, mais especificamente a literatura?
NBR.: Eu passei muito tempo da minha vida morando numa casa de esquina: caminho para o Rio ou para o centro histórico. Cresci seguindo cortejo do Grupo Lua Cheia, fiz teatro, dança, música na cidade. Eu amo muito minha história e de onde venho, por essa razão vejo na arte, nas suas mais variadas linguagens, o recurso mais humano que há. Nos tempos de crise, durante as grandes guerras principalmente, as obras de arte/livros são um dos primeiros bens a serem guardados ou mesmo roubados, seja pelos países ou pelos comerciantes. Nesses dias ruins, falo isso porque trabalho para artistas de todo o Ceará, obras de arte têm sido consumidas em massa pelos apreciadores e por quem tem o privilégio de poder adquirir. Na contramão disso estão os livros, a literatura sofre, mas não deixa de existir e é por essa razão que fiz questão de deixar uma versão gratuita de “Chão de Vento”. Lanço esse livro para lembrar à mim de onde venho e para lembrar ao Aracati que a nova geração vem com consciência de classe, sabendo seu lugar de fala e respeitando sua história.







Ler o livro é o mesmo que percorrer a cidade e se encantar com Aracati. Você fica ansioso por mais contos. Espero que saia logo uma versão estendida.
Essa minha prima vai longe!
Vi a matéria e já corri ao Amazon para adquirir o livro. Tá com preço ótimo a versão e-book. Agora é se deliciar com as histórias.