O uso do impulsionamento de conteúdo nas redes sociais ganhou força nas eleições de 2020 e subiu, até a reta final do primeiro turno, três posições no ranking das despesas eleitorais dos candidatos.
Há dois anos, nas eleições gerais de 2018, o impulsionamento representou a 9ª maior rubrica de gastos dos candidatos, no valor total de R$ 78 milhões, sendo que duas multinacionais de tecnologia apareciam na lista das dez maiores fornecedoras de campanha.
Agora, já é o sexto maior gasto declarado dos candidatos, R$ 56 milhões, com quatro empresas no ranking das dez maiores prestadoras de serviço: Facebook, Google e duas plataformas de pagamento digital usadas pelos gigantesda internet, dLocal e Adyen.
Os dados, reunidos por ferramenta do Movimento Transparência Partidária desenvolvida pela agência de dados Volt Data Lab, mostram ainda que os quatro campeões de todo o país no uso de dinheiro para impulsionar a campanha nas redes sociais, no primeiro turno, disputaram uma mesma prefeitura, a de Fortaleza.
Capitão Wagner (Pros), José Sarto (PDT), Célio Studart (PV) foram os únicos candidatos do país a ter declarado no primeiro turno gasto de mais de meio milhão de reais, cada um, com impulsionamento para que suas postagens atinjam um maior número -ou um nicho específico- de pessoas no Facebook e Instagram (que é do Facebook).
Luizianne Lins (PT), também candidata à Prefeitura de Fortaleza, foi a quarta no ranking nacional, com R$ 381 mil.
Sarto e Wagner vão disputar o segundo turno. Luizianne ficou em terceiro, com 17,76% dos votos válidos. Studart, em 5º, com 3,54%.
O candidato do PV declarou ter gasto com impulsionamento de campanha na internet de R$ 563 mil em recusos públicos, quase o valor total de sua receita.
Em uma de suas últimas postagens impulsionadas, ele aparecia em uma foto com quatro filhotes de cachorro e pedia o voto para o “único candidato que teve coerência com pandemia, defende a primeira infância, pessoas com deficiência, economizou dinheiro dos cofres públicos” e está “lutando contra os candidatos dos milhões”.
Autor da segunda maior declaração de gasto com impulsionamento no país, com R$ 630 mil, Sarto, que é o candidato de Ciro e Cid Gomes, tem uma campanha total bem mais cara, R$ 5,8 milhões.
Nas redes sociais, ele impulsionou depoimento de políticos que o apoiam, entre eles o ex-senador Cristovam Buarque e a ex-presidenciável Marina Silva, da Rede.
Capitão Wagner foi no primeiro turno o campeão de gastos com impulsionamento em todo o país, R$ 748 mil. Uma de seus últimos impulsionamentos é de um post com a mensagem: “Marque aqui o seu amigo que já mudou para o capitão”. A receita total do candidato é de R$ 3,3 milhões.
No ranking dos dez candidatos que mais dinheiro gastaram com impulsionamento figura ainda o ex-ministro Alfredo Nascimento, com R$ 290 mil. Ele ficou em sétimo na disputa à Prefeitura de Manaus, com apenas 2,54% dos votos válidos.
Além dos candidatos a prefeito, aparecem no topo da lista duas candidatas a vereadora, Cris Monteiro (Novo), em São Paulo, e Andreza Romero (PP), no Recife. Ambas foram eleitas.
Andreza foi a segunda mais votada do Recife. Ela tem como bandeira de campanha a defesa dos animais. Em um dos posts, aparece em uma foto fazendo gesto de espanto ao lado de um cavalo que puxa uma carroça, com a inscrição em que convida o eleitor para fazer parte do “time para acabar com a escravidão animal”.
A assessoria de Studart afirmou que a opção de fazer o investimento nas redes sociais ocorreu em virtude da pandemia e que a campanha teve gastos muito pequenos com pessoal e com materiais impressos.
“Não contratamos cabos eleitorais, equipe de rua e não fizemos nenhuma agenda de aglomeração, conforme orientações e protocolos sanitários necessários para o momento”.
A assessoria de Capitão Wagner afirmou que ele já tem um antigo trabalho com redes sociais e que a impossibilidade de campanha de rua em virtude da pandemia reforçou a importância da internet. A Folha não conseguiu falar com a campanha de Sarto.
Assim como em 2018, ano das eleições gerais, os principais gastos de campanha declarados pelos candidatos agora, no geral, continuam sendo com material impresso e com propaganda no rádio e na TV.
Há também valores expressivos com advogados e contadores, rubrica que o Tribunal Superior Eleitoral não discriminava até as últimas eleições.
Embora não sejam ainda números finais e haver o fato de as eleições gerais (2018) serem diferente das municipais, observa-se uma redução expressiva de gastos com militância de rua e combustíveis, entre outros itens, possível reflexo da pandemia do Coronavírus.
Veja a seguir, os principais gastos declarados pelos candidatos até agora e a comparação com 2018 -os números ainda vão mudar porque há o segundo turno. Além disso, as prestações de contas finais são entregues em dezembro.
Ranier Bragon/Folhapress