Num cenário de variáveis envolvendo transmissão, tratamento e cura da Covid-19, a população precisa seguir mantendo uma série de ações rotineiras, de modo a incorporar práticas sociais de cuidado. É o que apontam os infectologistas Melissa Medeiros e Keny Colares, médicos do Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), do Governo do Estado.
“É preciso que a gente assimile novas condutas, porque isso precisa virar hábito e fazer parte do nosso dia a dia. Essas medidas precisam ser encaradas como coisas naturais”, afirma Melissa, reforçando que o uso de máscara necessita ser absorvido como um item essencial no contato social, sem brechas para relaxamento. “É importante também ter sempre uma boa higienização, sempre que tiver contato com sujidade, e continuar evitando o contato físico com pessoas, estranhas ou não, que você encontra fora de casa”, completa.
A infectologista reforça que, apesar dos avanços no combate ao coronavírus, é preciso entender que a situação segue requerendo atenção. “A gente não tem data prevista para a Covid-19 acabar. Hoje existem coisas que a gente não conhece ainda sobre a transmissão, sobre o risco de reinfecção e também sobre o tempo para desenvolver uma vacina que seja eficaz e possa ser utilizada a longo prazo”, analisa.
Keny Colares salienta a necessidade de manter as adaptações nas relações sociais nos mais variados espaços – a exemplo de transporte público, sala de aula e postos de trabalho. “É provável que gente tenha que conviver com esses cuidados por algum tempo, talvez por alguns anos. Baseado em outras pandemias que aconteceram no passado, é necessário que a gente continue somando medidas que já conhecemos muito bem e continue diminuindo a circulação na rua. A recomendação é sair de casa apenas quando for necessário e, quando sair, tentar ficar mais distante possível das outras pessoas”.
Reuniões familiares
Após o período de lockdown, que acabou resultando no distanciamento momentâneo de parentes e amigos, muitas famílias têm promovido encontros. Esses momentos, porém, precisam seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). “O risco das reuniões familiares é o mesmo risco de qualquer tipo de aglomerado de pessoas e, quanto mais pessoas estiverem aglomeradas, é pior”, pontua Keny. Ele detalha: “Uma coisa é fazer uma reunião familiar num ambiente bem ventilado, na beira da praia, por exemplo, outra coisa é num ambiente totalmente fechado”.
Melissa aponta que, nessas situações privadas de contato social, muitas vezes não se mantêm a atenção com o distanciamento mínimo. “As famílias acabam tendo esse descuido nas condutas que são básicas para termos maior segurança e não se preocupam com o distanciamento de, pelo menos, dois metros”, afirma, reforçando que esses encontros entre parentes e amigos que não moram na mesma casa precisam ter a mesma cautela das demais aglomerações. “Essas medidas acabam sendo quebradas e pode haver um alto risco de transmissão se tiver uma pessoa doente ou que tenha sido exposto ao vírus e esteja assintomática”.
Mesmo com todos os cuidados, Dr. Keny pondera que cada família precisa avaliar quem, de fato, pode estar presente nesses encontros. “Se tem pessoas com fator de risco, idade avançada ou tem doenças crônicas – especialmente do coração, do pulmão e diabetes –, é importante considerar que talvez seja melhor que essas pessoas não compareçam”, indica.
Academias
Outro espaço de convívio que requer atenção é o ambiente de atividades físicas compartilhadas. “Nas academias, muitas vezes, as pessoas compartilham máquinas e objetos de exercício. Essa prática tem um risco de transmissão maior”, aponta Melissa, detalhando a necessidade de redobrar o cuidado ao dividir a rotina de musculação e atividades aeróbicas com outras pessoas.
“Numa academia, não tem motivo para tirar a máscara e as pessoas não precisam ficar tão próximas assim. Tem um risco, porque as pessoas ficam em torno de uma hora e, muitas vezes, são ambientes fechados, com ar-condicionado”, completa Kenny.
Restaurantes
Dentro da escala de riscos de contaminação, alguns ambientes de entretenimento acabam reunindo muitas das práticas de risco. “Os bares e restaurantes são considerados um dos locais mais arriscados, porque as pessoas estão normalmente falando, emitindo mais as partículas que podem contaminar outras pessoas, e também são lugares em que as pessoas costumam ficar numa proximidade maior. Como elas estão comendo e bebendo, elas passam boa parte do tempo sem a máscara”, avalia Dr. Keny.
Uso do celular
Outro ponto que merece atenção é o uso de celular, item discutido desde o início da pandemia, mas que, para muita gente, ainda não é prioridade na hora da limpeza. “Existem estudos mostrando que esse vírus pode durar algumas horas ou alguns dias em superfícies como material de madeira e aço. Recentemente, foi falado também da possibilidade da permanência do vírus nos celulares, além de um estudo recente mostrando que ele pode ficar até 9 horas sendo identificado na pele”, afirma Melissa Medeiros.
A médica ressalta, porém, que a detecção do vírus numa superfície não significa “necessariamente que ele é transmissível e capaz de infectar”. Mesmo assim, o alerta segue necessário. “Isso não quer dizer que a gente tenha que se descuidar da higienização, principalmente de celulares, computadores e outros materiais que a gente leva para a rua e traz pra dentro de casa. É importante sempre higienizar com um pano umedecido com álcool”.
Keny Colares finaliza: “É interessante que a gente mantenha a guarda alta, dentro do possível, para levar a vida da melhor forma possível. Precisamos manter ao máximo os cuidados para a gente não cantar vitória antes da hora e depois ter que enfrentar mais uma piora”.
Fonte: Ascom Sesa