Investigação da SaferNet, que trabalha em parceria com o Ministério Público Federal no monitoramento de fraudes eleitorais cometidas pela internet, aponta que ataques hacker sofridos pelo TSE neste domingo (15) foram uma “operação coordenada” para “desacreditar a Justiça Eleitoral”.
O tribunal foi alvo de negação de serviço (DDoS) contra os seus servidores e o vazamento de dados de funcionários.
Thiago Tavares, presidente da SaferNet, que vem fazendo o monitoramento desde o fim de outubro, forneceu ao MPF e ao TSE os dados levantados em tempo real.
“Trata-se de uma operação coordenada e planejada para ser executada no dia das eleições com o objetivo de desacreditar a Justiça Eleitoral e eventualmente alegar fraude no resultado desfavorável a certos candidatos”, diz Tavares.
Às 09h25 deste domingo, houve vazamento de dados antigos obtidos de um banco de dados com informações desatualizadas sobre o sistema de recursos humanos da Justiça Eleitoral. O ataque que deu acesso aos dados, no entanto, foi feito antes de 23 de outubro, segundo a PF.
“Apesar de o ataque ter sido feito antes de 23 de outubro, deixaram para publicar o vazamento dos dados na manhã de hoje, para causar mais impacto”, diz Tavares. “Em paralelo, deflagraram um ataque de negação de serviço (às 10h41) para tirar do ar o site e alguns serviços da Justiça Eleitoral.”
Ele explica que os IPs usados em ataques de negação de serviço (DDoS) geralmente integram as chamadas “redes zumbis”, formadas por computadores infectados, que podem estar localizados no exterior e serem coordenados daqui.
O TSE afirmou que os IPs dos hackers que invadiram os sistemas do tribunal seriam de Portugal ou coordenados por um cidadão português.
Os ataques, a princípio, não têm relação com o atraso da apuração dos votos pelo TSE neste domingo, diz Tavares.
Segundo o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, o atraso na apuração foi causado por um problema técnico em um dos processadores do computador responsável pela totalização dos resultados.
O atraso na apuração, além das informações sobre os dois ataques contra o TSE, deu combustível para uma campanha nas redes sociais com questionamentos à integridade do sistema eleitoral e dos resultados da eleição.
Perfis bolsonaristas e de outros políticos passaram o dia divulgando mensagens apontando para supostas fraudes eleitorais e falta de credibilidade do TSE.
O Twitter chegou a rotular um tuíte da deputada Joice Hasselman, que afirmou “Fraude? Será? Tem todo o cheiro” -a postagem recebeu o alerta “Essa reivindicação de fraude eleitoral é contestada.”
“Vários grupos políticos já estavam havia dias questionando a segurança dos servidores do TSE e das urnas, como que antevendo o anúncio do suposto hacking”, diz Tavares.
Ele cita uma transmissão ao vivo do cientista político Paulo Moura, reproduzida no perfil do canal conservador “Avança Brasil” no Periscope há 9 dias.
Intitulado “Se o STJ foi hackeado, como confiar no TSE”, o vídeo afirma: “Se a segunda maior instância da Justiça brasileira (STJ) é vulnerável a um ataque hacker dessa magnitude, e natureza, como confiar no TSE e seu sistema de controle da apuração dos votos das eleições brasileiras?”. Moura se referia ao ataque hacker ao STJ ocorrido em 3 de outubro.
À Folha de S.Paulo Moura afirmou que “o TSE tem um problema real de credibilidade; apesar de dizer que os sistemas de contabilização de votos não foram atacados porque não estão na rede, sabemos que qualquer sistema plugado na tomada pode ser hackeado. Os ataques contra o TSE provam que o sistema é vulnerável”.
O TSE esclareceu que os ataques hacker não atingem a contabilização ou apuração dos votos.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que foi delegado especializado em crimes cibernéticos, afirmou que o Senado irá cobrar uma investigação sobre os ataques contra o TSE. “Ataques como esse que atingiu o TSE exigem estrutura e financiamento; o objetivo é desacreditar a democracia. É preciso garantir investigação rápida e punição pesada para os criminosos”.
Patrícia Campos Mello/Folhapress