O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (19) que gostaria de dizer que o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) é seu amigo, “mas infelizmente ele [Ciro] não quer”.
Na segunda-feira (17), Ciro disse que vai “para cima” de Lula nas eleições de 2022 e que o político é “o maior corruptor da história brasileira”, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
“Eu adoraria dizer que o Ciro é um amigo. Mas infelizmente ele não quer. Mas eu aprendi uma teoria com a minha mãe, dona Lindu: quando um não quer, dois não brigam. Não farei jogo rasteiro”, rebateu Lula no Twitter, reproduzindo resposta concedida por ele em entrevista nesta manhã à rádio Folha de Pernambuco.
Ao Valor Ciro havia dito não acreditar que se mantenha até as eleições o cenário mostrado pela pesquisa Datafolha divulgada na última semana, que apontou Lula vencendo o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição de 2022 ao Planalto.
Para o pedetista, o processo só começa, de fato, em abril, quando ele considera que haverá espaço para uma terceira via. “O Brasil não cabe na esquerda, nunca coube. Mas também não cabe na direita. O que precisamos é de uma aliança”, disse, citando PSB, Rede, PSD e o DEM como possíveis aliados.
Ciro afirmou ainda que “vai para cima” do ex-presidente e que vai derrotar Bolsonaro, propondo mudanças. “Lula é parte central da corrupção. Lula é o maior corruptor da história moderna brasileira. E não aprendeu nada. Fica na lambança, prometendo a volta de um passado idílico que é mentira”, disse.
“Lula se esforça para retomar o poder e eu, para recuperar o país. O povo vai arbitrar”, completou.
Nesta quarta, após a declaração do petista de que adoraria tê-lo como amigo, Ciro -que foi ministro do governo Lula- redobrou as críticas e, no Twitter, acusou o ex-presidente de fugir ao debate.
“Lula, não é que você não queira brigar. É que para isso você usa bajuladores e seu gabinete do ódio. O que você não quer é debater o país, os projetos, as coisas que o PT fez no poder. Então você reduz a política a uma briga de amigos, a afetos. O povo brasileiro não merece isso”, escreveu.
“Mesmo porque, eu não gostaria de tratar você como amigo. Todo mundo sabe que você só considera amigo uma única pessoa no mundo: você próprio. Eu quero, sim, tratá-lo como oponente, em uma disputa política de alto nível, em torno de ideias, propostas, projetos e fatos”, acrescentou.
O pedetista disse ainda que o ex-presidente é “responsável pela tragédia do desastrado Bolsonaro”. “Ou você assume que 70% dos eleitores de SP, RJ, MG, Sul, Norte e Centro-Oeste que votaram no Bolsonaro são fascistas e gado, como sua corte chama?”, questionou.
“Estamos vivendo a maior crise de nossa história, temos que debater problemas e diferentes projetos com seriedade. Quero brigar contra a corrupção, a desindustrialização que você promoveu, a desigualdade que você manteve, os juros que seu governo pagou”, disse Ciro.
Pedindo que Lula “respeite a inteligência do povo brasileiro”, o pré-candidato do PDT perguntou quais são as “novas ideias” do ex-presidente. “Qual seu verdadeiro projeto de nação? Se existir, aceito confrontá-los civilizadamente com o meu. […] Vamos debater o Brasil, não afetos pessoais”, concluiu.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, Ciro vai para sua quarta campanha presidencial apresentando-se como um político de centro, mas que acena à direita, critica duramente o “lulopetismo” e busca amenizar o discurso intervencionista.
A pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostrou Ciro com apenas 6%, distante de Lula (41%) e Bolsonaro (23%).
Aliados do ex-ministro procuraram não se abalar, dizendo que há espaço para uma candidatura de centro e tempo para que seja construída. E que hoje não há ninguém mais bem posicionado que o ex-ministro para isso.
Desta vez, a comunicação do pedetista está a cargo do publicitário João Santana, que ajudou a eleger os petistas Lula e Dilma Rousseff. Em curtos vídeos na internet, o marqueteiro retrata um Ciro mais sorridente e quase meigo, em esforço para desassociá-lo da imagem de briguento e incontrolável.
Ciro também recrutou para seu time o ex-presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro, um liberal com bom trânsito no mercado. Seu núcleo duro sempre foi formado por economistas da escola keynesiana, que privilegia o Estado como indutor da atividade produtiva.
“Não existiria o bolsonarismo fascista, boçal e genocida, se não fossem as profundas contradições do lulopetismo, basicamente na economia, no mundo social e na debacle moral do país”, afirmou o ex-ministro à Folha de S.Paulo.