Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) elaboraram a receita ideal para um tipo de cimento mais resistente e sustentável que reduz as emissões de carbono. Considerada uma tecnologia verde, o cimento geopolimérico é mais de 90% constituído de resíduos industriais, como escórias de aciaria, um resíduo inerente à produção do aço, e cinzas volantes, material resultante da queima de combustível nas centrais termoelétricas a carvão.
A fórmula de ecocimento foi desenvolvida nos laboratórios do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil da Universidade Federal do Ceará e recebeu, no último mês de março, a carta-patente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
“Devido à instalação da indústria siderúrgica no Ceará há quase 10 anos, os resíduos siderúrgicos são abundantes no nosso estado. Da mesma maneira, quando há queima de carvão mineral nas termoelétricas locais há excesso de cinzas de carvão mineral. Combinados em proporções inteligentemente escolhidas e reagidos em meio fortemente alcalino, forma-se um poderoso cimento que pode ser produzido dando destinação nobre para o que seriam resíduos industriais acumulados, normalmente em pilhas ou em gigantescas piscinas impermeabilizadas de materiais inservíveis”, explica o Prof. Lucas Babadopulos, que assina como inventor responsável pela patente.
Integraram ainda o estudo os pesquisadores: Antonio Eduardo Bezerra Cabral, Heloina Nogueira da Costa, Daniel Lira Lopes Targino, Manoel Adrielton Macedo Moreira e Lucas Benício Rodrigues Araújo.
Considerada de alto impacto ambiental, a indústria cimenteira é, atualmente, responsável pela emissão de cerca de 5% de gases de efeito estufa no mundo. A busca pela redução da pegada de carbono tem sido, portanto, uma máxima para pesquisadores e relevantes empresas do setor. Uma alternativa com bons resultados ao cimento Portland, o cimento tradicional hoje amplamente disponível no mercado e o mais utilizado para a elaboração de concretos e argamassas, é o cimento dito “geopolimérico”. Tratado mais rigorosamente na literatura como “álcali-ativado”, ele tem potencial para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) em até 75% em relação ao tradicional.
Segundo o pesquisador, além dos ganhos para o meio ambiente, o uso do cimento geopolimérico promete bons resultados quanto aos custos das construções. “Uma vez que os materiais utilizados para produção do cimento geopolimérico são resíduos industriais de baixo valor agregado, o cimento produzido a partir desse material tende a ser economicamente competitivo no futuro, desde que haja escala de produção industrial, em locais em que os resíduos estejam disponíveis. Além disso, podem ser utilizados em aplicações com necessidade de redução de pegada de carbono”, afirma.