Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça italiana, tidas como fundamentais para a condenação em primeira instância de Robinho, 36, por violência sexual de grupo, em 2017, foram reveladas nesta sexta-feira (16) pelo site globoesporte.com (GE).
Em novembro de 2017, o Tribunal de Milão julgou como procedente a acusação do Ministério Público italiano de que Robinho participou, com outros cinco homens, de violência sexual coletiva contra uma albanesa de 23 anos em uma discoteca de Milão. O episódio ocorreu em janeiro de 2013, quando ele tinha 28 anos e jogava no Milan.
Ainda segundo o Ministério Público, o grupo teria embebedado a jovem, que teria ficado inconsciente e sido levada para a chapelaria do estabelecimento, onde teria sido violentada múltiplas vezes. A defesa do jogador, à época, afirmou que não existem provas de que a relação foi sem consentimento.
A acusação foi baseada no depoimento da vítima e em conversas telefônicas interceptadas do grupo de amigos, com comentários jocosos sobre o ocorrido.
No primeiro julgamento, ele e o amigo Ricardo Falco foram condenados a nove anos de prisão, além de pagamento de indenização de 60 mil euros -os outros foram considerados incontactáveis, e o processo foi suspenso para eles.
As interceptações foram iniciadas em janeiro de 2014, em telefones grampeados e escutas instaladas em carro usado por Robinho. As conversas entre Robinho e Falco reveladas pelo GE foram consideradas prova de que eles sabiam da condição da vítima.
De acordo com uma das transcrições, Robinho foi avisado da investigação pelo músico Jairo Chagas, que tocou na boate na mesma noite de 2013, e afirmou: “Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu”.
“Olha, os caras estão na merda… Ainda bem que existe Deus, porque eu nem toquei aquela garota. Vi (nome de amigo), e os outros foderam ela, eles vão ter problemas, não eu… Lembro que os caras que pegaram ela foram (nome de amigo) e (nome de amigo) […] Eram cinco em cima dela”, completou.
Numa outra conversa com o músico, este pergunta a Robinho se ele não transou com a mulher. O jogador nega, e Chagas diz: “Eu te vi quando colocava o pênis dentro da boca dela”. Robinho responde que “isso não significa transar”.
Ainda de acordo com a reportagem do GE, a sentença mostra que, numa conversa entre Robinho e Falco, este último destaca que a “nossa salvação” era o fato de que o momento em que eles estavam com a jovem não fora flagrado por câmeras.
No seu depoimento à Justiça, a mulher afirma que não tinha condições de falar ou de ficar em pé naquela noite e aponta Robinho como um dos envolvidos na violência.
Até o momento, Robinho, recém-contratado pelo Santos, não é considerado culpado, já que o processo ainda está tramitando na Justiça italiana, composta por três instâncias. Somente depois de percorrer essas três fases, a sentença pode ser considerada definitiva, com absolvição ou condenação -e, neste caso, com o início do cumprimento da pena.
A audiência no Tribunal de Apelação de Milão está agendada para o dia 10 de dezembro.
“Será a primeira vez [do processo] nesse tribunal, mas não sei dizer se será a última, porque o juiz pode querer reabrir alguma questão ligada a provas, aprofundar alguma coisa, ouvir novamente alguma testemunha”, disse à Folha de S.Paulo o advogado Alexander Guttieres, que representa Robinho ao lado de Franco Moretti. Os dois escritórios, sediados em Roma, assumiram o caso depois da decisão de primeiro grau.
Caso a sentença final, na terceira instância, considere Robinho culpado, um novo processo terá início, dessa vez para decidir sobre o cumprimento da pena de prisão. A Constituição brasileira impede a extradição de brasileiros para países onde crimes tenham sido cometidos.
Ao GE, Guttieres afirmou que a defesa argumentará que a relação foi consensual: “O artigo que enquadra meu cliente é claro: fala em induzir alguém a beber ou tomar droga com objetivo de usufruir dela sexualmente. Não há provas de que isso aconteceu. Fazer sexo com uma pessoa bêbada ou drogada não fere a lei. Não estou dizendo que ele [Robinho] é uma pessoa perfeita. Ele mesmo reconheceu ter tido uma conduta pouco séria, mas crime não cometeu”.
A defensora pública responsável pela defesa de Falco disse que não há prova de que eles deram álcool à mulher com o objetivo de se aproveitar sexualmente dela.
Na quarta (14), após a notícia da perda de uma patrocinadora por causa da contratação, o Santos publicou sua primeira nota oficial sobre o assunto.
“O clube não pode entrar no mérito da acusação, pois o processo corre em segredo de Justiça na Itália e sobretudo o Santos FC orgulha-se de, em sua história, sempre respeitar as garantias fundamentais do ser humano, dentre as quais, a presunção da inocência e o respeito ao devido processo legal”, afirma a nota.
“Não será o Santos FC que lhe dará uma sentença antecipada, prejulgando e o impedindo de exercer sua profissão”, continua a agremiação. “Infelizmente vivemos na era dos cancelamentos, da cultura dos tribunais da internet e dos julgamentos tão precipitados quanto definitivos, porém há a certeza que o torcedor do Santos FC entenderá que compete exclusivamente à Justiça realizar o julgamento.”
O clube diz ainda que não há mudanças em seu posicionamento nas campanhas de combate à violência contra a mulher: “São valores irrenunciáveis e que fazem parte da história do legado Alvinegro”.
A reportagem procurou o Santos novamente após a divulgação das conversas interceptadas e aguarda uma resposta.
O acordo entre Robinho e o time foi oficializado no último sábado (10), no CT Rei Pelé, com duração de cinco meses, até o fim do Campeonato Brasileiro, em fevereiro de 2021.
O salário, segundo o clube, será simbólico de R$ 1.500, mas envolve também outros ativos de performance, prevendo bônus de R$ 300 mil após dez partidas jogadas e outros R$ 300 mil depois de 15 jogos. Os valores, no entanto, só serão pagos no próximo ano.
ÍNTEGRA DA POSIÇÃO DOS REPRESENTANTES DO ATLETA
“As gravações do caso Robinho na justiça italiana”, publicada hoje pelo GE, os advogados do jogador Robson de Souza esclarecem:
1. O jogador reitera que não cometeu o crime do qual é acusado e que sempre que se relacionou sexualmente foi de maneira consentida;
2. Taxativamente não houve violência sexual tampouco admissão de culpa nas interceptações telefônicas, o que fica claro quando analisadas na integralidade e no contexto correto;
3. Por se tratar de processo sigiloso e ainda em curso, estamos impedidos de falar sobre o mérito das acusações. Entretanto, sobre a divulgação em si, deve ser esclarecido que há nos autos provas suficientes da inocência de Robinho – as quais infelizmente não foram divulgadas na matéria – e outras que ainda serão apresentadas à Justiça italiana, que certamente levarão à sua absolvição. Há diversas conversas interceptadas que não foram corretamente traduzidas para o idioma italiano, o que levou ao equívoco de interpretação.
4. Confiamos plenamente na Justiça italiana, no sucesso do recurso defensivo e na reforma da decisão, conscientes de que a submissão do feito às instâncias superiores permite justamente evitar erros judiciários e condenações injustas.
5. Por fim, Robinho agradece o apoio da torcida do Santos Futebol Clube e, como pai de família e atleta, faz questão de ressaltar que repudia todas as formas de violência”
Marisa Alija Ramos
Luciano Santoro
(representantes de Robinho)
Folhapress