Uma em cada três pessoas que tiveram Covid-19 recebeu um diagnóstico de doença mental ou neurológica em um período de seis meses após a infecção, aponta o maior estudo do tipo já feito, publicado nesta terça (6) na revista científica inglesa The Lancet Psychiatry.
Desde o início da pandemia de Covid-19 já havia a preocupação quanto a um risco maior de doenças neurológicas, por causa dos relatos iniciais dos sobreviventes.
Um estudo observacional apontou um risco maior de transtornos de humor e ansiedade nos primeiros três meses após a infecção pelo coronavírus, mas ainda não havia um trabalho de larga escala olhando para um período maior de tempo.
Os autores analisaram os dados de 236.379 pacientes, a maioria dos EUA. O estudo incluiu pacientes maiores de dez anos de idade que foram infectados com o coronavírus depois de 20 de janeiro de 2020 e estavam vivos em 13 de dezembro de 2020. O grupo foi comparado com outro de 105 mil pacientes que tiveram gripe e um de 236 mil pessoas que tiveram qualquer doença de trato respiratório (incluindo gripe).
Segundo eles, ansiedade (17%), transtornos de humor (14%), abuso de substâncias (7%) e insônia (5) foram os diagnósticos mais comuns que os sobreviventes da Covid-19 receberam.
Doenças neurológicas foram mais raras mas não incomuns entre afetados gravemente pelo coronavírus. Elas incluem hemorragia cerebral (0,6%), AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico (2,1%) e demência (0,7%).
Essas doenças foram mais comuns em pacientes com Covid-19 do que entre os que tiveram gripe ou outras doenças do trato respiratório no mesmo período analisado, o que sugere um impacto específico do coronavírus.
Os riscos também foram maiores em pacientes que tiveram um quadro grave de Covid -mas não se limitaram a eles. Doenças neurológicas ou psiquiátricas foram diagnosticadas, em geral, em 34% dos sobreviventes, mas em 38% dos que receberam atendimento hospitalar, em 46% daqueles que ficaram internados em UTI e em 62% dos que tiveram “delirium” (encefalopatia) durante o período da infecção.
Segundo Max Taquet, pesquisador da Universidade de Oxford e coautor do estudo, agora é preciso ver o que acontece com os pacientes depois de seis meses. O estudo, diz ele, não revela os mecanismos envolvidos no aumento dos riscos, mas aponta a necessidade urgente de identificá-los para que seja possível preveni-los ou tratá-los.
“Apesar de o risco dessas doenças ser pequeno do ponto de vista individual, os efeitos na população como um todo são consideráveis para os sistemas de saúde e de assistência social, por causa da escala da pandemia e levando em conta que muitas dessas enfermidades são crônicas”, disse em um comunicado Paul Harrison, autor principal do estudo e professor da Universidade de Oxford.
O estudo tem limitações, de acordo com os autores, como o fato de que muitas pessoas com Covid-19 têm sintomas leves ou são assintomáticas e não procuram um serviço de saúde; a população estudada, portanto, tem mais chance de ter sido afetada mais gravemente pela Covid do que a população geral.